José Eliton fala em "contexto dinâmico" ao comentar sobre candidatura em 2026 e diz que Marconi cometeu “equívocos”
Ex-governador defende o campo progressista, critica o bolsonarismo e avalia que o ex-aliado Marconi Perillo cometeu erros políticos que o afastaram do protagonismo em Goiás
16 de outubro de 2025 às 10:56
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Podcast
Três anos após deixar a vida pública, o ex-governador de Goiás José Eliton reapareceu com um discurso de tom moderado, mas carregado de recados políticos. Sem partido desde que deixou o PSB, o ex-tucano afirmou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve vencer a eleição de 2026 já no primeiro turno e apontou que o ex-governador Marconi Perillo, seu antigo aliado e mentor político, cometeu “equívocos” que o afastaram da construção de uma nova frente de poder no Estado.
Em entrevista exclusiva ao podcast Domingos Conversa, Eliton avaliou que o Brasil vive “um momento de serenidade política”, marcado pela recuperação da economia e pelo que chamou de “retorno da racionalidade”. De acordo com ele, o governo Lula “recolocou o país no eixo do diálogo” e vem consolidando avanços sociais e econômicos que sustentam a atual popularidade do presidente.
Ao falar sobre Marconi Perillo, Eliton adotou tom respeitoso, mas fez críticas à condução política do ex-aliado. “Admiro o Marconi, mas ele cometeu equívocos e hoje descarta composição. A política evolui, e o cenário atual torna pouco provável uma aliança. O fundamental é que o Brasil continue a avançar e não retroceda”, disse.
Apesar de negar que tenha planos eleitorais, Eliton deixou no ar a possibilidade de retorno. “Na fotografia de hoje, não sou candidato. Mas a política é dinâmica, e tudo pode mudar.” A entrevista completa está disponível no podcast Domingos Conversa, com José Eliton analisando os bastidores de 2026, o papel do agronegócio e a reconstrução do campo progressista em Goiás.
Abaixo, você pode ouvir ouvir o podcast nos tocador preferido:
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A seguir, você pode ler a transcrição dos principais trechos da entrevista:
Domingos Ketelbey: Governador, governador José Eliton, gravando aqui pela primeira vez em quase três anos, que o senhor não concedia entrevistas, estava afastado da vida pública. Recentemente o senhor esteve em um evento, em que prestigiou os 30 anos da filiação do governador Marconi Perillo no PSDB, e aos poucos dá sinais de retorno à vida pública. O que aconteceu desde então? O que motivou sua reclusão de 2022 para cá?
José Eliton: Olá, Domingos. Eu agradeço muito a oportunidade de falar com você, falar com os amigos internautas que estão nos assistindo neste seu podcast, que já inaugurou a semana passada e que terá muito sucesso, tenho convicção disso. Realmente há um tempo venho me dedicando à vida privada, às atividades privadas, ao meu escritório de advocacia, às minhas empresas. Afinal de contas, fiquei muito tempo voltado à vida pública. Era preciso reencontrar o caminho familiar, o convívio familiar e as questões próprias do dia a dia da vida profissional. Na semana passada estive presente na solenidade de celebração dos 30 anos de filiação do ex-governador Marconi ao PSDB. Fui em retribuição ao convite pessoal que ele me fez, um gesto que achei importante, e achei importante ir lá para cumprimentá-lo por essa marca. Mas, nos últimos dias, tenho sido procurado, buscado por algumas pessoas, forças políticas, para me manifestar acerca de alguns temas. E acho que a participação cívica, a participação política, é sempre importante. Por isso tenho, quando sou procurado, me manifestado.
Domingos Ketelbey: Vamos chegar nessa parte dos encontros que houve, algumas ideias, importantes partidos, mas antes quero continuar em 2022. Quem não se lembra, o senhor lançou, trabalhou uma pré-candidatura ao governo, se filiou ao PSB. Esteve até em movimento junto com nomes como o vice-presidente Geraldo Alckmin, que também havia saído do PSDB para o PSB. E o senhor trabalhou essa pré-candidatura, mas acabou que não prosperou; o senhor a retirou. Desde então, optou pela reclusão à vida familiar, como mencionou. Ficou alguma mágoa?
José Eliton: Importante reposicionar o que ocorreu em 2022. Eu estava filiado ao PSDB em 2021, apoiei a pré-candidatura do então governador e pré-candidato à presidência da República, Eduardo Leite. Ele foi derrotado nas prévias do PSDB. Em dezembro, o hoje vice-presidente me ligou informando que estaria saindo do PSDB, o que lamentei muito, pois entendia que era um quadro qualificado. Depois disso, passaram-se alguns meses, ele me convidou, fui a São Paulo, conversamos, e ele relatou a disposição de ser candidato a vice-presidência da República junto com o presidente Lula. Disse a ele que, nessa hipótese, faria o que fosse possível, pois acreditava que era importante o Brasil reencontrar o caminho do desenvolvimento, justiça social, um caminho de pacificação política, ou pelo menos de racionalidade na política. Apoiei a chapa presidencial e fui convidado naquele momento pelo então vice-presidente, tive encontro com o presidente Lula para buscar uma candidatura aqui em Goiás também. Nunca me coloquei, nunca trabalhei uma candidatura em 2022. Naquele momento, algumas lideranças nos procuraram, fui para o PSB, coloquei meu nome à disposição. Quando percebi que havia, por parte do PT e outros partidos, outras posições e lideranças com pensamentos diversos, entendi por afastar essa colocação e convite. Busquei contribuir com a eleição do presidente Lula, o que fizemos aqui com êxito, inclusive com a participação do professor Volmir, que foi candidato, enfrentando dificuldades estruturais em sua campanha, mas colocando seu nome e talento à disposição. Esse conjunto elegeu parlamentares federais, estaduais e, dois anos depois, municipais. Fez parte de uma mudança estrutural na política nacional em 2022. Acho que é sempre importante a participação política; é importante ter consciência do papel em sociedade para contribuir com transformações relevantes.
Domingos Ketelbey: No segundo turno, o senhor contribuiu com o movimento Agro pela Democracia. Foi um dos líderes. Como analisa esse setor?
José Eliton: Sem dúvida, porque era um segmento da sociedade bastante voltado para o então presidente Bolsonaro. Sempre brinco que há vida inteligente tanto no agro quanto em Goiás, quanto em vários cantos do país. É preciso argumentos, colocações necessárias. Foi isso que fizemos: figuras importantes do agro em Goiás também participaram nesse momento. O setor ainda é marcado pelo bolsonarismo, e a esquerda tem dificuldade de penetração. Mas é importante um bom debate. As forças políticas estão vendo a importância de prudência, serenidade, o que foi feito pelo bolsonarismo. Não confundo bolsonarismo com direita: são questões diferentes. É natural ser de direita; o bolsonarismo age muitas vezes de maneira irracional. Veja o episódio das tarifas dos EUA ao Brasil, provocadas pelo filho do ex-presidente nos EUA. O maior prejudicado foi o agro. Felizmente, o Brasil tem hoje capacidade de diálogo mundial, o que fez com que exportações brasileiras encontrassem mercados em outros países. O presidente Lula tem dialogado, preservando soberania nacional, democracia, valores constitucionais, garantindo capacidade de discussão de questões tarifárias. Recentemente, vemos uma aproximação do presidente Trump com o Brasil, e Lula demonstra sensibilidade com o agro; afinal, o Plano Safra lançado é o maior da história. Temos ainda problemas como recuperações judiciais nos produtores rurais, mas o governo federal está fortalecendo o segmento.
Domingos Ketelbey: Após o período eleitoral do último ano, o senhor pediu desfiliação do PSB. Houve algum conflito interno?
José Eliton: Em absoluto. Tive vários encontros com o vice-presidente, discutimos diversos pontos, e o governo incorporou algumas dessas ideias. Eu precisava, naquele momento, concentrar-me na vida profissional e assuntos privados. Por isso saí do partido. Tenho ótima relação com lideranças do PSB, PT e outros partidos. A democracia precisa de eliminação de fake news, agressividade política. Divergir de você não me dá o direito de atacar ou agredir. O Brasil precisa amadurecimento para discutir temas relevantes.
Domingos Ketelbey: Três anos depois, quase um da próxima eleição. Se arrepende do movimento?
José Eliton: Não me arrependo. Ao contrário, me orgulho de contribuir para um novo momento na sociedade brasileira. Os indicadores mostram que estávamos certos. O Brasil tem hoje a menor taxa de desemprego da história, inflação sob controle, projeção de crescimento econômico significativo para 2025. Há justiça tributária sendo discutida, desoneração para quem recebe até 5 mil reais. Investimentos retomados em educação, habitação, enfim, o Estado abriu mão de receitas vultosas em incentivos fiscais que deveriam ser debatidos. Incentivos devem chegar aos pequenos também. Precisamos avançar em questões estruturais e tributárias.
Domingos Ketelbey: Como esse campo caminha para 2026 nacionalmente? José Eliton: Caminha bem. Pesquisas mostram Lula como favorito. As ações têm reflexos no próximo ano. Não vejo impossível vencer no primeiro turno. O candidato de oposição terá de discutir soberania, democracia, economia, saúde e educação. Realmente, precisamos debater mercado internacional, ampliar mercados. O Congresso tem aprovado questões absurdas, mas o Senado corrige. O debate será melhor e mais interessante para a população.
Domingos Ketelbey: Vamos entrar na eleição dos candidatos em Goiás. Cenário do próximo governador.
José Eliton: Temos uma candidatura posta do vice-governador, que assumirá o governo e naturalmente será candidato em 2026. Candidatura também do senador Wilder Morais, representando o bolsonarismo. Marconi Perillo dentro do PSDB. Deve haver ainda uma candidatura da base do presidente em Goiás: PT, PSB, PV, PCdoB. O cenário é aberto, pois o país segue radicalizado. Os reflexos nos estados virão da polarização nacional. O governador Caiado é cotado à presidência; se for candidato isolado, terá apoio do vice. O Wilder representa o bolsonarismo, e Marconi a sua própria liderança. O PT e aliados têm chapas consistentes. Os nomes do campo progressista devem se preparar melhor que em 2022, quando a candidatura majoritária foi lançada apenas na convenção. O erro foi não trabalhar a candidatura com antecedência e mobilizar alianças, lideranças, e o eleitorado em todo o estado.
Domingos Ketelbey: O campo progressista tem liderança para capitanear esse projeto?
José Eliton: Tem vários nomes qualificados. Adriana Accorsi, Rubens, professor Edvaldo, vereadora Ava e outros. Não faltam nomes, falta um projeto maduro e preparado, que dialogue com a sociedade e mobilize alianças. O importante é identificar com clareza as teses e princípios e construir uma chapa forte para competir.
Domingos Ketelbey: O senhor voltará à política em 2026?
José Eliton: Estou sem partido político. Foco em questões pessoais. Sempre me manifestações quando procurado, busco contribuir quando chamado. Candidatura depende de fatores e lideranças. Fico feliz em contribuir com ideias e projetos, independentemente da posição ou grupo. Política é dinâmica, e tudo pode mudar.
Domingos Ketelbey: O senhor está mais próximo de qual grupo hoje?
José Eliton: Não é sobre estar próximo de grupo. Respeito todos os campos políticos e lideranças, admiro Marconi Perillo, mas hoje ele descarta composição. Política evolui; no cenário de hoje, é pouco provável avançar juntos, mas o fundamental é que o Brasil continue a avançar e não retroceda. A sociedade precisa de uma base progressista forte, debate construtivo, combate a fake news, justiça social e tributária real, crescimento com distribuição de renda. Aqui em Goiás, a discussão precisa ser sobre isso.
Domingos Ketelbey: O senhor caminharia com o candidato do campo progressista, do PT?
José Eliton: Caminharia com o candidato progressista, que reflita ideias modernas, sem radicalização, sem ataques pessoais, com repúdio à fake news, assistência social eficiente, justiça tributária e crescimento econômico com distribuição de renda. São os desafios reais. Domingos Ketelbey: O senhor constaria nos cargos majoritários em Goiás? José Eliton: Na fotografia de hoje, não. Continuo focado na vida privada, pronto para contribuir com opiniões e ideias. Política é dinâmica; amanhã tudo pode mudar.
Domingos Ketelbey: Percebo que há um retorno gradual à vida pública. O senhor teve encontros com lideranças, foi a eventos, está mais presente em redes sociais...
José Eliton: Sempre gostei da responsabilidade política. Para mim, é a mais nobre das artes quando feita com espírito construtivo e disposição de beneficiar os mais simples. Convicção de ter feito programas importantes; muitos foram desconstruídos, como o Terceiro Turno, a Faculdade do Esporte, e a valorização dos profissionais da UEG. Vejo agenda pública sendo dilapidada, mas mantenho o compromisso de contribuir.

Domingos Ketelbey
É repórter, colunista e apresentador. Conecta os bastidores do poder, cultura e cotidiano na cobertura jornalística
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