Vacina contra dengue

Vacina contra dengue (Foto: TV Brasil)

Vacina contra dengue

Vacina contra dengue (Foto: TV Brasil)

Vacina contra dengue

Vacina contra dengue (Foto: TV Brasil)

Vacina contra dengue

Vacina contra dengue (Foto: TV Brasil)

Vacina do Butantan contra a dengue é oficialmente registrada pela Anvisa

Vacina do Butantan contra a dengue é oficialmente registrada pela Anvisa

Depois de anos de espera, a dengue enfim encontra uma vacina brasileira

8 de dezembro de 2025 às 16:21

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Política

O Brasil acaba de ganhar uma arma nova na guerra contra a dengue. A Anvisa publicou nesta segunda-feira (8) no Diário Oficial da União o registro da vacina desenvolvida pelo Instituto Butantan, selando um processo regulatório que vinha sendo anunciado em discursos e apresentações desde o fim de novembro. Agora, com carimbo oficial, o plano sai do PowerPoint e entra no calendário. A previsão do governo é iniciar a vacinação gratuita pelo SUS em 2026.

O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, havia antecipado o registro semanas atrás. Faltava a assinatura burocrática que, no Brasil, costuma ser o trecho mais imprevisível da travessia. A Anvisa afirma que todas as etapas técnicas foram cumpridas e que a vacina atende aos critérios de segurança, qualidade e eficácia. O detalhe político não é menor. Trata-se da primeira vacina contra a dengue produzida por um laboratório nacional, num país que convive há décadas com epidemias sazonais e respostas sempre tardias.

A Butantan-DV é tetravalente, combate os quatro sorotipos da dengue e tem um trunfo raro no mercado mundial. É aplicada em dose única. A tecnologia é de vírus vivo atenuado, velha conhecida da caderneta de vacinação brasileira, presente em imunizantes como o da febre amarela, da poliomielite e da tríplice viral. Nada de solução experimental importada às pressas. É ciência de prateleira, com carimbo internacional.

Os dados de eficácia reforçam o argumento político. Segundo a Anvisa, a vacina apresentou 74,7% de proteção contra a dengue sintomática em pessoas de 12 a 59 anos. Nos casos graves e com sinais de alarme, a proteção chegou a 89%, conforme estudo publicado na revista The Lancet Infectious Diseases. Em outras palavras, o imunizante não promete milagre, mas entrega uma redução robusta no que mais pesa no sistema de saúde: internações, complicações e mortes.

Mesmo com o registro em mãos, o Butantan ainda terá de cumprir o ritual de vigilância permanente. A agência exige estudos adicionais e monitoramento contínuo do uso na população. A faixa etária inicialmente aprovada vai dos 12 aos 59 anos, mas pode ser ampliada à medida que novos dados forem incorporados. A prudência regulatória segue sendo o antídoto institucional contra o entusiasmo político excessivo.

Em novembro, o instituto já anunciava a existência de 1 milhão de doses prontas. A promessa é chegar a mais de 30 milhões de unidades em meados de 2026. No papel, é uma revolução logística. Na prática, será mais um teste da capacidade do Estado brasileiro de transformar boas intenções em política pública de largo alcance.

A vacina é fruto de uma parceria entre o Butantan e a empresa chinesa WuXi Vaccines, costurada pelo Ministério da Saúde. A China fornece a tecnologia, o Brasil entrega a produção. O arranjo resume bem a diplomacia sanitária do século 21, em que soberania não se mede mais em território, mas em capacidade industrial.

O registro da vacina chega em um país que já naturalizou a dengue como tragédia recorrente. A cada verão, o mosquito vence por pontos. Agora, o jogo muda de fase. Se o cronograma sair do papel, 2026 pode marcar a primeira temporada em que o Brasil entra em campo com vantagem real contra um adversário que há décadas joga sozinho.

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Domingos Ketelbey

É repórter, colunista e apresentador. Conecta os bastidores do poder, cultura e cotidiano na cobertura jornalística

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