Streaming expande acesso, mas futuro das transmissões esportivas no Brasil é nebuloso, avalia Téo José
Ao Blog Domingos Ketelbey, narrador celebrou democratização das plataformas, mas alertou para falta de profissionais e influência da política
28 de agosto de 2025 às 21:08
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Esportes
O apresentador, jornalista e narrador esportivo Téo José não foge de polêmicas quando o assunto é o futuro das transmissões esportivas no Brasil. Para ele, a chegada dos streamings democratizou o acesso do público, mas abriu espaço para novas distorções. “Hoje você tem mais gente podendo assistir, mas também falta profissional qualificado para tanta transmissão. E, em alguns casos, a qualidade técnica deixa a desejar”, avalia.
Ao mesmo tempo em que comemora a multiplicação de plataformas, Téo alerta para a influência da política no futebol. Lembra que, da Série D ao Campeonato Goiano, muitas transmissões recentes foram fechadas sem licitação e sob critérios pouco transparentes. “Eu gostaria de saber quem está bancando isso”, dispara na entrevista concedida ao jornalista Domingos Ketelbey.
A crítica se estende ao modelo de gestão do esporte no país. Para o narrador, federações e a própria Confederação Brasileira de Futebol (CBF), tornam o ambiente pouco atrativo para quem quer atuar de forma independente. Ele cita a tentativa frustrada de transmitir o Goianão pela Band em Goiás: “Seguimos todos os caminhos corretos, mas não tivemos resposta. Cansei dessa turma”.
A entrevista foi concedida ao Blog Domingos Ketelbey durante o lançamento do livro “Bem com a Vida – A História da Araguaia FM”, escrito pelo jornalista Iúri Rincon Godinho. A obra resgata a trajetória da emissora que marcou época em Goiás nos anos 1980 e 1990, e da qual Téo fez parte antes de se tornar uma das vozes mais reconhecidas do jornalismo esportivo brasileiro. Atualmente, ele apresenta um programa na TV Band Sucesso e também toca um podcast com o filho.
Ainda assim, Téo reconhece avanços na gestão da CBF, como a redução dos estaduais e a promessa de mais transparência em competições nacionais. Mas não esconde a descrença: “Espero que a Copa do Brasil e as séries tenham concorrência. Será que vai acontecer? Tenho muita dúvida”.
Leia a entrevista na íntegra com o apresentador e narrador esportivo, Téo José:
DOMINGOS KETELBEY: O streaming chegou de vez ao futebol, inclusive em competições como a Série D. Como você enxerga esse futuro das transmissões e do jornalismo esportivo?
TÉO JOSÉ: Ficou mais democrático. Antes só havia rádio, TV aberta e a cabo. Hoje temos YouTube, streamings e até redes sociais transmitindo. Isso amplia o acesso do torcedor. Mas há um lado ruim: falta profissional capacitado para tanta demanda. Já narrei Série C por streaming e foi desgastante. A iluminação era ruim, a câmera ruim, a edição ruim. Eu terminava o jogo com dor de cabeça.
DOMINGOS KETELBEY: Esse cenário traz também questões políticas. Isso te preocupa?
TÉO JOSÉ: Muito. A transmissão da Série D pelo Metrópoles é um exemplo. Foi decidida politicamente, sem licitação. O mesmo ocorreu no Campeonato Goiano, transmitido pela TV Assembleia e pela Brasil Central. Isso me incomoda porque não é transparente.
DOMINGOS KETELBEY: Qual seria a solução?
TÉO JOSÉ: Jogar aberto. Mas é difícil. A Copa do Brasil, por exemplo, foi direto para a Globo sem licitação. Eles disseram “eu pago, eu levo” e ficou por isso mesmo. O esporte no Brasil é administrado de forma fechada, com federações e confederações que não querem concorrência real.
DOMINGOS KETELBEY: Você chegou a pensar em criar suas próprias transmissões?
TÉO JOSÉ: Já pensei, mas desisti. Tentamos com a Band transmitir o Goianão, seguimos todos os trâmites, falamos com federação e TBC, mas não tivemos resposta. Cansei dessa turma. Prefiro investir meu tempo no que pode dar certo.
DOMINGOS KETELBEY: Então a política atrapalha o futuro das transmissões?
TÉO JOSÉ: Atrapalha bastante. Quanto mais plataformas surgirem, mais dinheiro entra no jogo. Mas é um mercado nebuloso. Estrangeiros chegam aqui e perguntam: por que o YouTube paga tão caro para transmitir de graça? Qual o retorno disso? Eu não sei. Eu gostaria de saber quanto o Metrópoles está pagando pela Série D, quanto estão gastando com transmissões, filmagem, sinal para quem está narrando no Metrópoles. Quem está bancando isso? Eu gostaria de saber também. Quem tá bancando a Série D para o Metrópoles? Eu gostaria de saber. O que eu defendo é simples: que Série D e Goianão passem por licitação, de forma transparente.
DOMINGOS KETELBEY: E como você avalia as mudanças que a CBF promete, como a redução dos estaduais e a criação de grupos de trabalho?
TÉO JOSÉ: Vejo pontos positivos. Reduziram os estaduais para 11 datas, o que é bom. Não precisa acabar com eles, mas diminuir faz sentido. Já o Brasileirão está nas mãos das ligas, que cuidam da parte comercial. O que eu espero é que Copa do Brasil, Série B e Série C realmente tenham concorrência. Que seja limpo e transparente. Será que vai acontecer? Tenho muitas dúvidas.
Domingos Ketelbey
É repórter, colunista e apresentador. Conecta os bastidores do poder, cultura e cotidiano na cobertura jornalística
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