Tomaz Silva/Agência Brasil

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Caiado vai ao Rio apoiar Castro em operação que deixou 121 mortos e articula frente de governadores de direita

Governador de Goiás convoca cúpula estadual para quinta-feira; declaração sobre chefes do CV em Goiás não foi confirmada por autoridades do Rio

29 de outubro de 2025 às 15:01

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Política

Enquanto dezenas de corpos eram retirados de áreas de mata no Complexo da Penha na manhã desta quarta-feira (29), o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), articulava por videoconferência uma demonstração de força política da direita brasileira. O objetivo: segundo ele, prestar solidariedade ao governador do Rio, Cláudio Castro (PL), após a Operação Contenção resultar em 121 mortos, a maior chacina policial da história do estado fluminense.

A Operação Contenção mobilizou cerca de 2.500 agentes das polícias Civil e Militar nos complexos do Alemão e da Penha, na Zona Norte da capital fluminense. O número de 121 mortos foi confirmado pela Polícia Civil do Rio (117 suspeitos e 4 policiais) após perícia. A Defensoria Pública do Rio contabiliza 132 mortos (128 civis e 4 policiais) em levantamento próprio. A variação ocorre porque durante a madrugada de quarta-feira, moradores do Complexo da Penha retiraram aproximadamente 74 corpos de uma região de mata na Serra da Misericórdia e os levaram à Praça São Lucas para identificação.

Caiado anunciou que viajará ao Rio de Janeiro nesta quinta-feira (30) em comitiva com outros governadores para apoiar Castro e as forças de segurança do estado. A iniciativa reuniu inicialmente Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), Romeu Zema (Novo-MG), Mauro Mendes (União-MT) e Jorginho Melo (PL-SC), todos do campo de centro-direita.

CAIADO MENCIONA LIDERANÇAS DO COMANDO VERMELHO EM GOIÁS

Em vídeo divulgado nas redes sociais, Caiado afirmou que quatro chefes do Comando Vermelho que comandavam operações criminosas em Goiás estavam escondidos no Rio de Janeiro e morreram durante a megaoperação. "Só no estado de Goiás tinham quatro chefes de facção do Comando Vermelho ali, entre os que morreram no combate com as forças de segurança do Rio de Janeiro", afirmou o governador.

A declaração de Caiado sobre o número específico de líderes goianos mortos ainda não foi confirmada por fontes oficiais do governo do Rio ou Polícia Civil RJ. O secretário da Polícia Civil do Rio informou que 30 dos alvos da operação eram oriundos de outros estados, porém sem especificar a procedência individual por estado.

Segundo Caiado, o Rio se tornou refúgio nacional para lideranças do crime organizado. A fala reforça o posicionamento do governador em maio deste ano, quando revelou publicamente que 54 lideranças do Comando Vermelho que atuam em Goiás haviam se refugiado nas favelas cariocas. Na ocasião, o governador criticou duramente a ADPF 635, conhecida como "ADPF das Favelas", que restringiu operações policiais em comunidades do Rio entre junho de 2020 e abril de 2025.

"O BRASILEIRO NÃO SUPORTA MAIS IMPUNIDADE"

Em pronunciamento na noite de terça-feira (28), Caiado elogiou o que chamou de "coragem" do governador Cláudio Castro. "O brasileiro não suporta mais conviver com esta total situação de impunidade", afirmou. O governador goiano colocou as tropas de segurança de Goiás à disposição do Rio de Janeiro, embora não tenha detalhado como essa ajuda seria executada.

COMPONENTE ELEITORAL PARA 2026

A visita conjunta dos governadores ao Rio é vista por analistas com impacto na dimensão eleitoral. Todos os participantes da videoconferência desta quarta-feira integram o campo político de centro-direita e são cotados como potenciais candidatos presidenciais em 2026, em oposição ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

"Trata-se de um assunto de segurança que atinge também os nossos estados. E como tal, o momento é de solidariedade para poder devolver o Rio de Janeiro aos cariocas e também àqueles que vivem nessa região que estão hoje subordinados a esta violência do narcotráfico", declarou Caiado.

A avaliação interna do grupo de governadores é que o presidente Lula poderia considerar intervenção federal no Rio de Janeiro, o que exigiria a nomeação de um interventor e a retirada dos poderes de Cláudio Castro. O apoio dos governadores seria, nessa leitura, crucial para evitar desgaste político do governador fluminense.

CASTRO CLASSIFICA OPERAÇÃO COMO "SUCESSO"

Cláudio Castro classificou a operação como um "sucesso" em coletiva nesta quarta-feira, afirmando que os únicos que considera vítimas são os quatro policiais mortos. "Temos muita tranquilidade de defendermos tudo que fizemos ontem. Queria me solidarizar com a família dos quatro guerreiros que deram a vida para salvar a população. De vítima ontem, só tivemos esses policiais", declarou.

O governador fluminense criticou duramente o governo federal: "A gente não vai ficar respondendo nem a ministro nem a autoridade que queira transformar esse momento em uma batalha política. O recado é: ou soma no combate à criminalidade ou suma".

Os ministros Rui Costa (Casa Civil) e Ricardo Lewandowski (Justiça e Segurança Pública) se reuniriam com Castro ainda nesta quarta para discutir a operação. Durante reunião no Palácio da Alvorada, o governo federal reiterou que não houve qualquer consulta ou pedido de apoio por parte do Rio de Janeiro para a realização da ação.

OPERAÇÃO SUPERA MASSACRES HISTÓRICOS

A operação já é a mais letal da história do Rio de Janeiro no século 21, podendo superar o total de mortes do Massacre do Carandiru, em 1992, quando 111 presos foram mortos pela Polícia Militar de São Paulo. As imagens de dezenas de corpos enfileirados em lonas repercutiram nacional e internacionalmente, gerando críticas de organismos de direitos humanos.

MORAES ASSUME ADPF DAS FAVELAS

O ministro do STF Alexandre de Moraes assumiu temporariamente a relatoria da ADPF 635 (ADPF das Favelas) após a aposentadoria do ministro Luís Roberto Barroso e deu prazo de 24 horas para que a Procuradoria-Geral da República se manifeste sobre pedido de providências do Conselho Nacional de Direitos Humanos envolvendo a megaoperação.

A ADPF 635, ajuizada no Supremo em 2019 pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB), restringiu operações policiais em favelas do Rio entre junho de 2020 e abril de 2025. Para Caiado e outros governadores de direita, a ADPF havia transformado as favelas cariocas em "refúgio" para criminosos de outros estados durante o período em que vigorou.

A operação desta quarta-feira, realizada após o encerramento da vigência das restrições mais severas da ADPF, reacendeu o debate sobre os limites da atuação policial em comunidades e a eficácia das políticas de segurança pública no Rio de Janeiro.

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Domingos Ketelbey

É repórter, colunista e apresentador. Conecta os bastidores do poder, cultura e cotidiano na cobertura jornalística

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