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Domingos Conversa #4: AAVA SANTIAGO: POLÍTICA, RELIGIÃO, LULA, MARCONI E ELEIÇÕES 2026

Aava Santiago fala sobre religião, o relacionamento com Lula e Marconi Perillo, a CEI da Limpa Gyn e as perspectivas eleitorais para 2026

27 de outubro de 2025 às 23:35

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Reeleita em 2024 com 10.482 votos, a maior votação da história da Câmara Municipal de Goiânia, Aava Santiago é uma figura política que desafia categorizações. Evangélica da Assembleia de Deus, filiada ao PSDB, defensora de pautas progressistas e conselheira do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Como é possível conciliar identidades aparentemente contraditórias? Foi para responder a essa e outras perguntas que a vereadora mais votada de Goiânia aceitou o convite para o quarto episódio do podcast Domingos Conversa, já disponível nos principais tocadores de streaming.

Em entrevista exclusiva, Aava Santiago explicou como chegou à política, navegou pelas contradições que a definem e se tornou uma ponte entre mundos que raramente se comunicam: evangélicos e progressistas, PSDB e Lula, oposição municipal e interlocutora federal. "Política é dinâmica", poderia ser seu mantra. Para ela, não há contradição, mas sim evolução política natural.

A vereadora falou abertamente sobre sua relação com o presidente Lula, revelando que o PSDB de Goiânia, sob sua presidência, foi o único diretório do partido em todo o Brasil que apoiou o petista em 2022. "Eu tive total autonomia para seguir com as minhas convicções sem abrir mão da minha lealdade", afirmou. Sobre o ex-governador Marconi Perillo, Aava adotou tom respeitoso, mas firme: "Sou muito grata ao ex-governador Marconi Perillo por, em todas as nossas divergências, nunca jamais ter me pedido para leiloar minha consciência."

Santiago também detalhou sua atuação como vice-presidente da Comissão Especial de Inquérito (CEI) que investiga o consórcio Limpa Gyn e disparou críticas contra o prefeito de Goiânia, Sandro Mabel (UB). A entrevista completa está disponível no podcast Domingos Conversa, com Aava Santiago analisando os bastidores da política goiana, as perspectivas eleitorais para 2026 e os desafios de ser uma política que transcende as categorias tradicionais.

Abaixo, você pode ouvir o podcast no tocador preferido:

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A seguir, você pode ler a transcrição dos principais trechos da entrevista:

Apresentação e a vereadora mais votada da história

Domingos Ketelbey: Olá, eu sou o Domingos Ketelbey e esse é o Domingos Conversa. Podcast já disponível nos principais tocadores de streaming e agora aqui na TV Capital. Para essa estreia, tenho a honra de entrevistar a vereadora Aava Santiago. Em segundo mandato, ela foi reeleita em 2024 com mais de 10 mil votos, tornando-se a mulher mais votada da história da Câmara.

De lá para cá, ela se tornou uma das vozes mais proeminentes na oposição do prefeito Sandro Mabel, incomodando no plenário, nas redes sociais e também nos tribunais. De 2022 para cá, ela também ultrapassou as fronteiras de Goiás, tornando-se uma das principais conselheiras do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e com trânsito em ministérios em Brasília.

Hoje eu converso com a vice-presidente da CEI da Limpa Gyn, vereadora, ex-presidente do PSDB do diretório metropolitano em Goiânia, vereadora Aava Santiago — malocrente, flamenguista e fiel da Assembleia de Deus, que faz inclusive esse trânsito de interlocução até religiosa com o presidente Lula.

Você já esteve lá de 2022 para cá, de forma bem regular em Brasília, até em outras agendas fora de Brasília, e se tornou uma espécie de queridinha do presidente, incomodando setores do seu partido, PSDB, e até mesmo setores do PT. Obrigado Aava por estar aqui, nesse episódio de estreia, é uma honra me entrevistar.

Aava Santiago: Eu me sinto profundamente engrandecida e muito responsabilizada pelo tamanho do desafio que você me coloca de ser o rosto da estreia desse espaço que eu tenho certeza que vai ser fundamental na democratização e na qualificação do acesso à notícia no nosso estado e fora dele. Obrigada pelo convite.

Gênero, oligarquias e herança política

Domingos Ketelbey: Eu não poderia deixar de chamar uma mulher, a mais votada da história da Câmara, no ambiente político em que nós temos uma maioria de mulheres demograficamente no nosso país, mas tão pouco isso se converte dentro da política, né? Você é uma das poucas vozes da oposição na Câmara dos Vereadores, e também uma das poucas políticas com mandato e com a relevância do seu mandato, né?

Aava Santiago: Você puxa aí uma questão fundamental, que é esse recorte de gênero. A gente adota um conceito sociológico das maiorias minorizadas, porque embora sejamos numericamente a maioria, somos uma minoria política. As estruturas políticas e econômicas que organizam as prioridades do país são majoritariamente masculinas.

Se a gente traz aqui para o estado de Goiás, a gente tem outro componente que é crucial, que é o componente das oligarquias. Nós estamos em um estado governado por herdeiros, herdeiros brancos, herdeiros homens, herdeiros que tratam a coisa pública como se fizessem parte do seu testamento.

Então, quando o pai decide não mais ser candidato, o filho já está pronto para ser candidato. Quando um homem da família, o líder político da família, por algum motivo, com algum problema com a justiça, se torna inelegível, o filho ou o sobrinho já estão prontos para ocupar aquele lugar.

Isso é exatamente como as famílias fazem quando têm um carro, uma geladeira, mas é a vida da gente — a matéria da herança deles são os nossos destinos, os destinos das nossas crias. Então, é por isso também que é tão importante reivindicar esse espaço enquanto uma mulher que, além de compor uma maioria minorizada, também disputa poder com herdeiros.

Não sou herdeira de sobrenome, não sou herdeira de fortuna, mas tenho o que me precede: gerações e gerações de mulheres trabalhadoras, e foi isso que me levou até a Câmara de Goiânia.

Herança religiosa e fé como organizadora do mundo

Domingos Ketelbey: Você não tem uma herança política, mas você tem uma herança religiosa. Seus pais são muito religiosos da Igreja Assembleia de Deus e isso coloca a senhora numa situação de aproximação com o público religioso. Como isso se materializa politicamente, inclusive na sua relação com o presidente Lula?

Aava Santiago: Isso me permite uma reflexão bíblica. A minha fé é a minha herança, a esperança de um futuro vindouro que não seja material. Agora, em relação ao quanto isso se materializa politicamente, é importante dizer que isso nunca foi algo que esteve no meu radar.

A minha fé não é um aspecto de quem eu sou, ela é o elemento organizador de todas as minhas outras inclinações. Eu vejo o mundo a partir desse horizonte que é o Evangelho de Cristo].

Meu pai faleceu, mas ele era pastor da Assembleia de Deus, todos os meus tios são pastores, a mãe é missionária da Assembleia de Deus. E foi justamente essa criação — importante contextualizar territorialmente — porque sempre tive igrejas periféricas. Meu pai pastoreou durante muitos anos uma igreja em uma das regiões mais violentas do estado do Rio de Janeiro, na zona oeste do Rio, onde eu fui criada.

Nós tínhamos na nossa igreja, no Círculo de Oração, irmãs que oravam juntas, onde o filho de uma tinha matado o filho da outra. O filho de uma tinha virado policial, o da outra tinha virado faccionado. Dois jovens negros periféricos criados por mães pentecostais que jogavam bola juntos no mesmo campinho de terra.

Um acreditou no ideal de heroísmo vendido pela segurança pública e o outro acreditou em um ideal de redenção econômica vendido pelo tráfico de drogas. Os dois foram fatalmente enganados, um está enterrado, o outro estava cumprindo pena e essas duas mães oravam juntas.

Esse é o retrato dos Brasis profundos que não nos permitem olhar a política com olhares duais, com olhares binários. É por isso justamente que, não para me aproximar ou em função da proximidade com o presidente Lula, mas ao falar sobre isso com muita convicção, o presidente Lula enxergou em mim uma interlocutora que transitava pelos Brasis de fé, que não são aqueles Brasis escritos de maneira oportunista pelos magnatas que fazem da fé um negócio.

Evangelho, esquerda e progressismo

Domingos Ketelbey: Muita gente diz que esquerda e esse movimento pentecostal não combinam. Como é que você avalia isso? Até o presidente Lula tenta se aproximar desse movimento, diz inclusive que a próxima indicação para o STF vai ser um aceno a esse movimento, Jorge Messias, que é um advogado evangélico. E esquerda e o movimento pentecostal, eles combinam?

Aava Santiago: O evangelho, para mim, Domingos, ele precede qualquer outro tipo de valor e de elaboração. O evangelho não é de direita, ele não é de esquerda. O evangelho tem, enquanto ferramenta, enquanto compreensão de mundo para nossa vivência na terra, ele nos convida a ser profundamente inquietos com as injustiças. É isso que o evangelho nos ensina.

E por incrível que pareça, Domingos, embora a gente tenha uma extrema direita que diga que ela é a defensora dos valores cristãos, a primeira vez que eu aprendi sobre reforma agrária foi lendo o profeta Amós. A primeira vez que eu ouvi falar que se deve cuidar do estrangeiro, do órfão e da viúva, foi lendo os profetas menores.

Eu nunca tinha ouvido falar de enfrentamento às desigualdades, aliás, eu nunca tinha ouvido falar de que a fome do outro tem que ser uma prioridade para mim, até ler o livro do apóstolo Tiago. Esses elementos foram os que me trouxeram até aqui.

Eu nunca reivindiquei para mim o título de esquerda. Isso para mim, sinceramente, não é prioritário. Eu reivindico para mim a capacidade de, enquanto agente público, trazer os valores do evangelho para redução das desigualdades, porque eu li o sermão da montanha. Trazer para a minha prática política o estar do lado dos que choram, porque eu li o evangelho.

Porque não foi Marx, não foi nenhum teórico de esquerda que disse que eu tinha que visitar os presos. Quem disse isso foi o próprio Jesus. Quando ele disse: "Eu tive preso e não fostes me visitar, tive frio e não me destes vestir".

Então, se tudo isso me faz ser associada à esquerda, talvez seja a extrema direita que esteja dizendo que aquilo que o evangelho nos ensina tem mais a ver com a esquerda do que com eles mesmos.

A tentativa de sequestro da pauta religiosa

Domingos Ketelbey: Essa pauta foi sequestrada por setores da direita?

Aava Santiago: Olha, Domingos, eu acredito que há uma tentativa de sequestro. Eles não têm o poder de sequestrar pauta alguma, especialmente o evangelho de Cristo. Eu digo sempre que, às vezes conversando com pastores — eu sou muito franca com os meus pastores — fiz meu aniversário esse dia agora no samba e meu pastor estava no samba.

Meu aniversário foi um retrato da forma como eu vejo a vida. Tinha samba, tinha criança, tinha pastor, tinha político, estava todo mundo junto. Tinha o ex-governador Marconi Perillo, tinha a vereadora Elenisa da Mata do PT das cidades de Goiás. Tinha vereadores da Câmara de Goiânia porque realmente é possível encontrar convergências.

Mas o que eu dizia é que certa feita um pastor muito amigo meu falou assim, que ele tinha receio, ele tinha preocupação de que a esquerda fosse inimiga da igreja e fechasse as igrejas e tudo mais. Essa é uma ausência completa de conhecimento da história, porque Lula foi presidente por dois mandatos, de mais um mandato e meio. E as igrejas só cresceram.

Aliás, Silas Malafaia entrou para a lista da Forbes durante o governo Lula. Os grandes magnatas da fé ficaram multimilionários durante os governos Lula.

Eu acho que Lula fez até concessão demais e eu disse isso pra ele: "O senhor sentou muito com os chantagistas que o senhor nem deveria ter dado moral". E aí, além disso, uma igreja que depende de presidente para se manter de pé é uma igreja fraca. Uma fé que depende de agentes políticos para ser uma fé eficaz, é uma fé fraca.

Eu prefiro — e eu sempre digo isso — "Ah, vai perseguir a igreja?" Pois que persiga. Eu prefiro ser de uma igreja perseguida do que de uma igreja que persegue. O evangelho não pode ser signatário do desmonte de direitos. O evangelho não pode ser signatário de um projeto de poder que seja para tirar de quem tem menos e colocar na mão de quem tem mais. Se isso é chamado de esquerda, que seja.

Eles não sequestraram de maneira nenhuma, eles só tentam, só blefam, só mentem e a gente está aqui para colocá-los diante do espelho para que sua imagem monstruosa seja repetida e as pessoas compreendam isso.

Marina Silva, Jorge Messias e os evangélicos

Domingos Ketelbey: O presidente Lula tem indicado que vai nomear um ministro evangélico. Bolsonaro fez isso no passado também ao indicar André Mendonça. Se isso se consolidar, acredita que o movimento evangélico, o movimento pentecostal, pode olhar com outros olhos para o presidente Lula?

Aava Santiago: Eu acredito que sim, mas não tanto por isso, porque o Jorge Messias é também evangélico. Ele é uma série de outras coisas, um advogado leal que esteve com a presidente Dilma no momento muito difícil e tem outros evangélicos no governo.

A Marina Silva, que é uma das ministras mais importantes do Brasil e uma das figuras mais importantes do planeta — eu sempre digo isso porque às vezes a gente perde a dimensão da grandeza, a gente naturaliza isso. Mas a ministra Marina, o Rei Charles marca a hora para falar com ela, sabe? É o Leonardo DiCaprio que fica esperando uma agenda com ela.

A Marina dignifica a cadeira do Ministério e é pentecostal do "retetê", irmã do coque, realmente ela só usa coque. Eu brinco isso com ela: "A senhora é o modelo da irmã do coque". E foi indicada pelo presidente Lula.

Então, assim, eu acho que isso é um aceno sim, mas o que tem acontecido é que os evangélicos de modo geral, com exceção daqueles que foram radicalizados, eles têm percebido que muita gente usa o nosso discurso, faz de conta que é um dos nossos, mas não promove mudanças reais para a vida da gente, não constrói soluções reais para a vida da gente.

Então, a materialidade das soluções é isso que a Bíblia diz. A Bíblia diz que Jesus não só curava os enfermos, ele curava os enfermos, mas ele não despedia a multidão com fome. E por um tempo, o bolsonarismo tentou se apropriar das nossas convicções sem promover soluções práticas para a nossa vida.

E a Igreja tem percebido isso, tem percebido o quanto também o bolsonarismo instalou um caráter de rebeldia entre os próprios crentes, um caráter de ingratidão entre os próprios crentes, de modo que hoje, se o bolsonarismo tem um candidato e o pastor tem outro candidato, o crente dando é com o pastor. "Como é que você não está apoiando o crente do bolsonarismo?" Isso está acontecendo em 2024.

Isso mostra que o bolsonarismo instalou nas nossas igrejas uma crise de liderança e crise ética. Isso é muito interessante, porque eles diziam que era o Lula que ia fechar a igreja, mas você nunca viu o crente saindo da igreja porque o pastor não apoiou o candidato do Lula, mas é o que teve de crentes saindo da igreja porque os pastores não apoiaram o bolsonarismo em 2024, não está escrito.

Então, o gesto do presidente em relação ao Jorge Messias é um gesto interessante de dizer: "Nós não temos problema nenhum com evangélicos. Pelo contrário, se nós tivermos entre nós evangélicos que estejam aptos a ocupar esses espaços, a gente indica até para a Suprema Corte". É um gesto interessante, mas ele é só a coroa de um processo de compreensão de reflexão para a igreja brasileira.

Representatividade feminina no STF

Domingos Ketelbey: A gente começou esse bate-papo falando sobre gênero. Fica uma frustração de não ter uma mulher sendo indicada?

Aava Santiago: Eu acredito que sim. Entretanto, também acredito que nós temos um olhar de um imenso retrocesso nos últimos anos. Antes do presidente assumir, grandes conquistas que pavimentaram o caminho natural para a indicação de uma mulher ruíram. E a maior dessas conquistas que quase ruíram foi a democracia.

Então, a gente estava muito avançado na trajetória das conquistas e agora a gente voltou para um start que é assim: vamos só isolar quem está batendo palma para pneu, quem está orando para pneu, para a gente construir limites civilizatórios mínimos para garantir direitos mínimos.

E nesse momento de reconstrução, infelizmente, eu digo isso com muito pesar, as mulheres são sempre as primeiras a serem eliminadas do processo. E neste momento, o presidente Lula entende — e ele tem razão nesse ponto — que a gente precisa garantir uma Suprema Corte que seja firme no enfrentamento aos desmontes democráticos, para que na sequência não sejam as mulheres que serão, se Deus quiser, indicadas futuramente, que tenham que estar reconstruindo as bases.

A gente precisa entregar minimamente, porque é muito ruim para nós dormirmos, enquanto mulheres na vida pública, o tempo inteiro ficar circulando em torno da sobrevivência. É importante reestabelecer esse processo para que não caiba sobre mulheres o fardo de serem elas, agora, inéditamente chegando ao Supremo, que têm que reconstruir a democracia, porque em via de regra foram agentes homens que ajudaram a colocá-la sob ameaça.

PSDB, Lula e as eleições de 2026

Domingos Ketelbey: 2026 chegando, é possível apoiar a reeleição do presidente Lula e é possível candidatura do governador Marconi Perillo ao Palácio das Esmeraldas?

Aava Santiago: Totalmente, tudo isso é totalmente possível.

Domingos Ketelbey: Mas o governador Marconi Perillo tem dito que, pelo menos nacionalmente, o PSDB caminha para uma oposição e deve iniciar 2026 cada vez mais na oposição do presidente Lula.

Aava Santiago: Olha, Domingos, o que eu tenho enquanto elemento concreto de análise é a história. Eu não tenho o futuro, a história eu tenho. E a história me garante que, durante todos os processos de complexas decisões, eu tive total autonomia para seguir com as minhas convicções sem abrir mão da minha lealdade.

Então, foi assim em 2022, em que eu apoiei, e o PSDB de Goiás, que era presidido por mim, foi o único diretório do país que apoiou o presidente Lula nos dois turnos, e isso não abalou em um milímetro a minha relação com o ex-governador Marconi Perillo. Eu acredito que nós seguiremos assim, tanto é que, ao lado de dirigentes de vários partidos, ele estava no maravilhoso samba na Rua 8, no meu aniversário, na segunda-feira.

Possível aliança PT e PSDB

Domingos Ketelbey: Em 2022, cogitou-se muito uma aliança entre o PSDB e o PT. Hoje, essa possibilidade está fria, né? Como você avalia isso? Você acha que é possível? Você trabalharia por uma aliança entre o PT e o PSDB?

Aava Santiago: Olha, eu sou uma cumpridora de missão, e ninguém me deu essa missão ainda. A gente está com outras missões mais emergentes, especialmente na Câmara de Goiânia, e também alguns enfrentamentos em nível estadual que atravessam Goiânia, mas que extrapolam a cidade.

Eu acredito muito que vai ser um caminho natural, um alinhamento de forças que faça oposição ao caiadismo. E nesse alinhamento natural de forças que faça oposição ao caiadismo, essa é uma das possibilidades mais viáveis.

Hoje, na Assembleia Legislativa, você sabe que, por incrível que pareça, são três espectros que fazem oposição ao Caiado: o PT, o PL e o PSDB. Então, os três estão no mesmo planice em relação a essa percepção.

Por outro lado, o bolsonarismo não costuma ser agregador, pelo contrário, ele costuma ser bastante segregador, de modo que até mesmo aliados próximos ao bolsonarismo que ousem divergir minimamente são jogados ao escrutínio público e abandonados como soldados feridos pela estrada, que é uma característica dos líderes covardes, aliás.

Então, nesse sentido, eu vejo que há muito campo para uma aliança e também campo para que as estradas sejam paralelas, não antagônicas, mas paralelas e eventualmente convergindo de maneira pontual.

PSDB: sobrevivência e identidade

Domingos Ketelbey: Mas o PSDB perdeu todos os governadores ao longo dos últimos anos, está com uma bancada muito diminuta, tanto no Senado como na Câmara dos Deputados. É um partido que muita gente diz que luta pela sobrevivência. Como é que você vê essa sobrevivência do PSDB? O PSDB vai chegar firme em 2026? Sua candidatura vai ser pelo PSDB? Você não cogita sair não?

Aava Santiago: Bom, vamos lá. Eu acho que quando a gente tem um processo de profundo estremecimento democrático, todos os partidos comprometidos com a democracia, em maior ou menor grau, estão lutando pela sua sobrevivência, cada um com a sua configuração.

Então, sim, o PSDB luta para sobreviver, mas outros partidos também lutam para sobreviver. Mesmo que as siglas não estejam acabando, se eles não tiverem história, se eles não tiverem valores, eles também estão desaparecendo, só que é um desaparecimento diferente. É um desaparecimento que nós na sociologia chamamos de um desaparecimento epistemológico.

Então, quando você pega partidos que têm um histórico de entregas pelo Brasil, de repente esses partidos estão se fundindo, se federando, seus nomes desaparecem, suas siglas desaparecem, suas histórias desaparecem, viram um partidão que é o União Brasil.

O União Brasil é a junção do antigo PSL, que foi o partido Bolsonaro, do antigo PFL, que era o partido Caiado historicamente de oposição à esquerda, e é um partido que até pouquíssimos dias atrás tinha ministério no governo federal e agora é a pedido da iniciativa do presidente Lula que os outros cargos estão sendo exonerados.

Ou seja, esse partido é grande, mas quem garante que ele não desapareceu epistemologicamente? Então, essa é uma disputa que tem outras camadas além das óbvias.

Além disso, eu não respondo pelo PSDB, eu sou uma parlamentar do partido. Essa disputa da agenda partidária, enquanto instituição, os presidentes do partido têm muito mais propriedade para falar. O que eu posso te garantir é que eu sou muito grata ao ex-governador Marconi Perillo por em todas as nossas divergências nunca jamais ter me pedido para leiloar a minha consciência. É por isso que eu estarei no projeto dele em 26.

Convites para mudar de partido

Domingos Ketelbey: Falando de aliança com outros partidos, a deputada federal Adriana Accorsi, presidente do PT, entrevistei ela recentemente. Ela disse que convidou a senhora para integrar uma legenda que apoie o presidente Lula nas eleições do ano que vem. Ela disse que não faz questão da senhora no PT, mas que gostaria de ver a senhora num partido da base aliada do presidente Lula. Esses convites surgiram? Eu imagino que a senhora recebe muitos convites, né?

Aava Santiago: Muitos, infelizmente menos do que eu gostaria de convite para almoçar e para jantar, mas para mudar de partido, toda hora tem um convite, entendeu?

Então eu sou muito amiga da Adriana, a gente conversa muito. Toda vez que eu encontro a Adriana, ela fala: "Você tem que vir para o nosso lado e fazer mais". Lá na Câmara de Goiânia, muitas vezes tem colegas que falam: "Você defende mais o Lula aqui do que os outros".

Uma tucana petista?

Domingos Ketelbey: Uma tucana petista? Isso é possível?

Aava Santiago: Olha, eu acredito que é completamente possível estar em um partido e ter profundas alianças em outros partidos, de maneira a construir uma agenda de interesse público, e é assim que eu atuo. Mas, sim, a Adriana me convidou, o senador Carlos Viana me convidou, tem um monte de gente me convidando para um monte de coisa, só que eu não tomo nenhum tipo de decisão baseado tão somente na minha sobrevivência eleitoral.

Construção e ampliação do alcance político

Domingos Ketelbey: Essa decisão vai ficar para quando? Ou já está decidida permanecendo no PSDB?

Aava Santiago: Não, na verdade, eu não estou em um processo de decisão, estou em um processo de construção, de ampliar o alcance do meu nome, porque eu sou uma vereadora de Goiânia, né? Eu sei — é até uma fala minha que viralizou muito — eu sei onde está a minha localização: vereadora de Goiânia. Isso me faz, me coloca de alcance visível gigantesco em um estado que tem 246 municípios. É nisso que eu estou focada agora.

A CEI da Limpa Gyn e a investigação municipal

Domingos Ketelbey: Gente, está indo para a reta final da nossa entrevista. Você é uma vereadora de Goiânia e presidente da CEI da Limpa Gyn. Queria focar nessas questões locais agora nessa nossa reta final. Muita gente começou lá atrás, há pouco mais de um mês, falava que a CEI não ia dar em nada, que era barganha política. A senhora teve uma fala contundente no plenário da Câmara: "Eu vou provar que isso não é bem assim, agora eu vou entrar de cabeça nessa CEI". Foi bem apoteótico essa frase da senhora. O que a senhora vê na CEI hoje?

Aava Santiago: Me permite só um parêntese linguístico, eu amo a palavra apoteótica, eu sou uma evangélica completamente apaixonada por escola de samba e pela Portela e o adjetivo apoteótico me engrandece muito, muito obrigada.

É uma ótima maneira de estrear, conquistando a entrevistada, mas eu acredito que o que aconteceu no processo de instalação da CEI foi muito constrangedor, foi uma vergonha para a cidade, uma vergonha para o poder executivo e também para o poder legislativo.

O prefeito se empenhou em uma campanha de infamação dos vereadores com indiretas e é isso que eu não entro, não entro, me frustro. Se é para dizer que está sendo chantagiado, foi o que eu disse na tribuna esse dia, diga quem está chantagiando. "Ah, os vereadores estão fazendo a CEI para fazer barganha", "eu só não posso falar quem". Ah, pera aí, a gente aqui não está num joguinho de indireta, não é o João Kleber não, que é o poder legislativo, é a Câmara de Goiânia, é um negócio que tem que ter a estatura que o nosso povo tem.

As relações entre o legislativo e o executivo têm que se comportar com a grandeza que Goiânia se espera de nós. E aí o prefeito passou três semanas dando entrevistas dizendo que era barganha, que era chantagem sem dar um nome, sem dizer uma chantagem.

Isso primeiro coloca todo o Parlamento numa vala comum, isso é inaceitável, e mais do que isso aponta para um executivo que, se foi chantagiado em termos não republicanos, prevarica ao não levar isso adiante, ao não levar à polícia civil, ao não levar ao Ministério Público, e se não foi, age de maneira cínica ao colocar essa pecha no Parlamento para tentar interditar uma prerrogativa que é nossa, que é de fiscalização.

A gente é cobrado por um monte de coisa que o vereador não faz. Aí a única coisa que é certeza que o vereador faz, que é fiscalizar o executivo, quer atrapalhar, não tem condição.

Tanto é que eu não tinha assinado a CEI, você sabe que eu não assinei a CEI, porque era o movimento da base dele, eu não faço parte da base, eu não quis assinar. Mas a partir do momento que eu vi que o prefeito estava tão afoito e tão desesperado para entender que tal uma CEI surgiu, uma expressão que é muito usada no X, "red flag", surgiu um baita red flag no meu horizonte de pensar: "poxa, por que o executivo, com tanta coisa para fazer na cidade, está gastando tanta energia para interditar uma prerrogativa do legislativo que é fiscalizar?" Foi por isso que eu entrei na CEI e os resultados têm vindo.

Como é que ela vai terminar? Olha, eu seria absolutamente leviana se dissesse como a CEI vai terminar. O que eu sei e eu posso te garantir, é que ela já não termina da mesma forma que começou em relação à prestação do serviço, porque nós já identificamos irregularidades, tanto irregularidades na empresa quanto principalmente, por incrível que pareça, na prefeitura.

É a prefeitura que tem sido omissa no processo de fiscalização e você sabe que você tem dado campo à cobertura para isso. Não tem lógica esses meses todos a gente estar pagando por um serviço que é de pesagem, se a prefeitura não tem balança para fiscalizar, não tem lógica. A gente está pagando para colocar o lixo lá no aterro e não tem um fiscal para dizer qual é o lixo que é descarregado na caçamba, porque a empresa recebe mediante atestado de prestação de serviço.

E esse atestado de prestação de serviço tem sido feito de maneira completamente equivocada pela prefeitura de Goiânia. A CEI já apontou isso e eu te garanto com certeza, se eu não posso dar os detalhes de como vai terminar porque eu desconheço, o que eu posso te dizer é que sem sombra de dúvidas o serviço vai melhorar porque nós estamos identificando cada um de seus gargalos.

Encerramento e possibilidade de retorno

Domingos Ketelbey: Vereadora, passaria 30 minutos, uma hora conversando com a senhora, porque tenho certeza, tenho perguntas aqui que eu separei que eu não consegui fazer. A gente vai ter que combinar uma parte 2 para essa conversa.

Aava Santiago: O retorno.

Domingos Ketelbey: O retorno. Aava Santiago, o retorno. Muito obrigado por ter estreado esse programa comigo, já estava disponível nos tocadores de podcast, mas agora aqui na TV Capital também, todas as segunda-feiras, 21h30, o bate-papo sempre com uma personalidade política, ou alguém com mandato, alguém sem, mas uma análise, entrevista boa. Muito obrigado pela sua presença aqui, viu.

Aava Santiago: Eu que te agradeço, pode ter certeza que eu serei uma Domingos-Conversa-Lover, ouvirei todos os episódios e ainda vou ficar comentando com você e eu espero voltar mais vezes porque eu sou no profundo admirador do seu trabalho e da sua capacidade de comunicar com clareza as urgências da nossa gente.

Domingos Ketelbey: Conto com sua audiência, você que acompanhou aqui o Domingos Conversa, esse primeiro episódio na TV Capital, muito obrigado e até a próxima.

Sobre o Domingos Conversa

O Domingos Conversa é um podcast de entrevistas apresentado pelo jornalista Domingos Ketelbey, disponível nos principais tocadores de streaming (Spotify, Apple Podcasts, Amazon Music e YouTube) e também transmitido pela TV Capital. O programa traz conversas aprofundadas com lideranças políticas de Goiás e do Brasil, com foco nos bastidores do poder, nas contradições políticas e nos desafios da democracia brasileira contemporânea.

Produção e Equipe Técnica:

Apresentação e roteiro: Domingos Ketelbey
Edição, mixagem e design gráfico: Lucas Coqueiro
Styling: Tainara Maia
Fotografia: Leo Iran
Trilha sonora original: Steven F Allen

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Domingos Ketelbey

É repórter, colunista e apresentador. Conecta os bastidores do poder, cultura e cotidiano na cobertura jornalística

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