Lô Borges faleceu aos 73 anos (Foto: Divulgação)

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O trem azul que foi embora

Lô Borges partiu, mas sua música vai continuar atravessando janelas e esquinas

3 de novembro de 2025 às 10:44

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Cultura

"Coisas que a gente se esquece de dizer, frases que o vento vem as vezes me lembrar, coisas que ficaram muito tempo por dizer, na cancão do vento não se cansam de voar."… Passei boa parte da metade da última década ouvindo Lô Borges sem perceber que, de alguma forma, ele também me ouvia. Enquanto eu escrevia crônicas e matérias, ele dedilhava acordes que pareciam medir o ritmo do que eu sentia: uma pressa calma, uma alegria meio nostálgica, um encantamento despretensioso pelas coisas simples.

Lô morreu neste domingo, aos 73 anos, e com ele se vai um pedaço do Brasil que falava baixinho, mas dizia tanto. Um Brasil de janela aberta, cheiro de café e violão afinado. O país onde uma frase como “há um trem azul que corre dentro de mim” fazia todo sentido.

O som dele era uma mistura impossível: rock que parecia samba, jazz que soava como conversa de varanda. E aquele sotaque mineiro, que não era só geografia, era jeito de existir. Cada nota parecia pedir licença antes de entrar.

“Paisagem da Janela”, “O Trem Azul”, “Um Girassol da Cor do Seu Cabelo”. Músicas que não envelhecem porque nunca foram moda. São lembranças em forma de som, trilhas de quem aprendeu a ver poesia no cotidiano. Talvez por isso Lô Borges tenha sido tão mineiro e tão universal ao mesmo tempo: ele não falava sobre o mundo, ele deixava o mundo falar por ele.

Às vezes e não raro, eu colocava discos e músicas de Lô e de todo o Clube da Esquina tocando em sequência. Às vezes, as músicas se repetiam e eu sempre adorei isso. Quantas vezes, fui embalado e inspirado por suas crônicas musicais. Quantas vezes, não escrevi reportagens ao som de toda essa trupe. Era como se Lô me lembrasse que não há pressa em dizer o que é bonito. Há apenas o tempo de sentir.

Lô Borges fez da simplicidade um abrigo. E, como todo artista de alma grande, partiu sem barulho, mas deixando aquele tipo de silêncio que ainda canta. Hoje, quando o dia desacelera e o mundo parece ruir, eu coloco um disco dele. O trem azul continua passando, devagar, mas sempre dentro da gente. "Você pega o trem azul, o Sol na cabeça… O Sol pega o trem azul, você na cabeça".

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Domingos Ketelbey

É repórter, colunista e apresentador. Conecta os bastidores do poder, cultura e cotidiano na cobertura jornalística

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