“O boteco é o lugar onde mais se entende o Brasil”, destaca chef de bar em Goiânia
Nos bares profundos, a geografia vira cardápio e os costumes se revelam em cada garfada
31 de agosto de 2025 às 16:18
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Cultura
“O boteco é o lugar onde mais se entende o Brasil”, sentencia o chef Luiz Paulo Cortez, um dos administradores do Gercina Bar, em Goiânia. “Antes do boteco, antes da gastronomia, a culinária já era histórica. Ela tá no prato, ela é geográfica”, destaca ao blog Domingos Ketelbey.
Na leitura de Cortez, não há mapa melhor do que a mesa de alumínio para se decifrar um povo. “Você entende a região onde está a partir da alimentação. E é dentro do boteco que se aprecia a cozinha brasileira. É onde a gente tem a evidência do que é consumido naquela região, quais são os costumes daquele povo.”
O argumento é simples e direto, como um gole de cerveja gelada compartilhado durante esta entrevista. O boteco é vitrine de identidades. O figado acebolado com jiló tradicional nos mercadões de Minas, o empadão no interior goiano e os discos de carne nas estufas dos botecos da capital, a moqueca da Bahia.
O balcão se torna parlamento popular, onde se negociam diferenças e se compartilham afetos. “O boteco explica o Brasil, explica Goiás, explica todo lugar”, insiste Cortez. Talvez porque ali, entre uma rodada e outra, o país se revele sem maquiagem: com sua fome, sua criatividade e sua eterna mania de transformar crise em anedota.
No fundo, o boteco não explica só o Brasil mas também dá a dimensão do porquê insistimos em rir da própria desgraça, discutir política entre um gole e outro e inventar piadas melhores que as do Congresso. Talvez, se Brasília tivesse mais botecos e menos gabinetes, o país já estaria resolvido.
Domingos Ketelbey
É repórter, colunista e apresentador. Conecta os bastidores do poder, cultura e cotidiano na cobertura jornalística
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