Idosos já representam 38% das internações no maior hospital municipal de Goiás
Hospital de Aparecida de Goiânia adota protocolos específicos para atender população cada vez mais envelhecida
9 de setembro de 2025 às 15:54
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Cidades
O Brasil está envelhecendo diante dos nossos olhos. A cada ano, a rede de saúde, pública ou privada, passa a lidar com uma realidade que o IBGE já carimbou em números: até 2050, mais de 30% da população terá 60 anos ou mais. Esse futuro, que parecia distante, já ocupa leitos e preocupa gestores. No Hospital Municipal de Aparecida de Goiânia Iris Rezende Machado (HMAP), 38% das internações em 2024 foram de idosos. O dado ecoa o que se projeta para o país inteiro.
No HMAP, unidade construída pela prefeitura e gerida pelo Einstein, a geriatria já deixou de ser exceção para se tornar rotina. As principais causas de internação mostram o peso das doenças crônicas: insuficiência cardíaca, pneumonia, infarto, além de cirurgias de hérnia e recuperação pós-operatória. Não é raro que pacientes ultrapassem o centenário. Só em 2024, dez deles tinham mais de 100 anos.
A médica Bárbara Norberto, geriatra do hospital, resume o dilema: “Esses pacientes não têm necessariamente cura, mas exigem controle rigoroso dos sintomas, prevenção de complicações e foco na qualidade de vida”. O que vale para Aparecida se aplica ao país. O idoso de hoje vive mais, mas carrega um fardo de comorbidades, dependências e vulnerabilidades.
Uma medicina que exige outro olhar
Cuidar de quem tem mais de 60 anos vai além de prescrever medicamentos. A imunossenescência, perda progressiva da eficiência do sistema imunológico, torna essa população mais vulnerável a infecções. Sintomas clássicos, como a febre, muitas vezes desaparecem. Um infarto pode chegar travestido de confusão mental. Um resfriado pode se transformar em pneumonia silenciosa.
Os médicos precisam reaprender a interpretar sinais clínicos e lidar com o que a literatura chama de “síndromes geriátricas”: quedas, delírio, depressão, fragilidade. A resposta ao tratamento é lenta. A linha que separa recuperação de complicação é tênue. “O foco vai além da doença pontual: visa preservar a funcionalidade, prevenir incapacidades e promover qualidade de vida”, reforça Bárbara.
Protocolos de um hospital que se prepara
No HMAP, a gestão decidiu enfrentar essa realidade com protocolos próprios para idosos. Um paciente com risco de queda recebe uma pulseira laranja e meias antiderrapantes. A pele frágil ganha cuidados específicos: curativos inteligentes, laserterapia, sabonetes líquidos com pH controlado. O detalhe ganha importância. A ferida mal tratada pode virar porta de entrada para infecções fatais.
Outras equipes se tornam centrais: fonoaudiólogos, que tratam a disfagia, dificuldade de engolir comum no envelhecimento; nutricionistas, que tentam vencer a batalha contra a desnutrição e a desidratação. Até a hidratação da pele ou a altura da grade da cama viram parte do tratamento.
Domingos Ketelbey
É repórter, colunista e apresentador. Conecta os bastidores do poder, cultura e cotidiano na cobertura jornalística
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