Enfim, CEI da LimpaGyn publicada. E agora?
Instalada à contra-gosto de Mabel, CEI expõe racha político e abre espaço para disputas dentro da própria base
23 de agosto de 2025 às 10:49
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Política
A novela terminou: a CEI da LimpaGyn foi oficialmente publicada no Diário Oficial desta sexta-feira (22). Depois de semanas de bate-boca no plenário, acusações cruzadas, tentativas de esvaziar a comissão e até ameaças de troca do líder do prefeito na Câmara, o papel agora é preto no branco. E, com isso, o problema que Sandro Mabel mais temia deixou de ser uma hipótese e virou realidade.
O prefeito até tentou evitar o desfecho. Pediu que os vereadores recuassem da iniciativa, insistiu que os contratos sob investigação são da gestão passada e apelou até para a retórica religiosa, dizendo ter “entregado para Jesus” a questão. Nada disso foi suficiente. A comissão está de pé e tem prazo de 120 dias para funcionar, prorrogáveis por mais 120.
A pedra no sapato
A partir de agora, Mabel terá de lidar com dois incômodos ao mesmo tempo. O primeiro é o risco de a comissão se transformar em palanque contra sua gestão, mesmo que os contratos tenham origem em administrações anteriores.
O segundo é político: a CEI nasce das mãos de vereadores que, em tese, compõem sua própria base. A fissura, que vinha sendo disfarçada desde a retomada dos trabalhos legislativos, foi escancarada.
Não é à toa que o prefeito correu à Câmara nesta semana para prometer conversas individuais com cada parlamentar. O movimento, raro para quem sempre manteve distância do dia a dia da Casa, mostra que a blindagem da base já não é tão confiável.
Quem vai sentar à mesa
Enquanto o Paço tenta conter danos, os partidos da Câmara movimentam seus espaços na comissão. O MDB, legenda com maior bancada no legislativo, já indicou dois nomes: Luan Alves e Pedro Azulão Jr. O União Brasil escalou Lucas Kitão. O PT deve referendar Katia Maria. O PL, ainda vai anunciar seu representante. PRD, do autor do requerimento que instituiu a CEI, Cabo Senna e o Solidariedade também terão direito a uma cadeira cada.
Assim, a CEI nascerá com sete titulares e quatro suplentes, escolhidos conforme a proporcionalidade partidária. Caberá a eles eleger presidente, vice e relator, que conduzirão os trabalhos de investigação.
Comissão ou palco?
A grande dúvida agora é se a CEI da LimpaGyn vai cumprir seu papel de fiscalização ou se será mais uma arena para barganhas e disputas internas. O histórico da Câmara não ajuda: não faltam exemplos de comissões que começaram com estardalhaço e terminaram em pizza. Não faz muito tempo a Comurg também teve uma comissão para chamar de sua que terminou em arranjos dos integrantes com o prefeito Rogério Cruz (SD).
O relatório final, com 13 páginas, serviu apenas como moeda de troca para cargos de parlamentares no Paço Municipal.
No atual momento, o simbolismo importa mais do que o resultado final. A publicação da CEI representa um revés político para o Paço e um aviso claro de que os vereadores não pretendem seguir à risca o roteiro escrito pelo prefeito.
E agora?
Instalada, a comissão terá a missão de investigar falhas na coleta, acúmulo de lixo, aditivos contratuais e até uso de maquinário. Se vai dar em algo concreto, só o tempo dirá. O que já se sabe é que, antes mesmo de começar, a CEI cumpriu um papel: transformar em crise política o que o prefeito tentava varrer para debaixo do tapete.
Domingos Ketelbey
É repórter, colunista e apresentador. Conecta os bastidores do poder, cultura e cotidiano na cobertura jornalística
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