Cristovam Buarque prega Lula 2026, cutuca esquerda e diz que Brasil pode querer "um ortopedista"
Ex-ministro antecipa aliança com PSB, defende Lula e faz brincadeira sobre Caiado ao dizer que país pode querer “um ortopedista”
15 de agosto de 2025 às 01:44
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Política
Em Goiânia, uma conversa de mais de uma hora com jornalistas virou uma verdadeira aula de política. O ex-ministro da Educação Cristovam Buarque falou como quem já não tem tempo para medir palavras. Cravou que o Cidadania, partido ao qual é vice-presidente, vai mesmo fechar uma federação com o PSB e, na prática, apoiar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na eleição de 2026.
“Hoje eu desejo que seja o Lula, quando comparo com as outras alternativas que nós temos”, disse, antes de admitir que ainda há bolsões de simpatizantes do bolsonarismo no partido.
A defesa não veio sem ressalvas. Cristovam reconheceu que a esquerda perdeu a capacidade de inspirar, sobretudo a juventude, e deixou a ultradireita ocupar o espaço. Para ele, o problema não está no “charme” dos adversários, mas nos erros acumulados pelo próprio campo progressista: afastamento da moral religiosa popular, incompetência nas redes sociais e falta de um projeto mobilizador.
“Misturamos política com religião, como se para ser de esquerda fosse preciso ser ateu ou defender pautas que chocam parte da população”, criticou.
Fiel à sua bandeira histórica, dedicou boa parte da conversa à educação. Cobrou do governo Lula atenção à educação básica e defendeu a adoção federalizada de escolas-modelo em cidades inteiras.
Ao comentar o modelo cívico-militar defendido pelo governador de Goiás, Ronaldo Caiado (UB), foi pragmático: o sucesso, segundo ele, está na disciplina que falta às escolas comuns.
Quando o assunto foi a corrida presidencial, Cristovam disse que Caiado tem “toda legitimidade” para disputar. E soltou a frase mais saborosa da tarde: “O Brasil está tão cansado de homeopatas que talvez queira agora um ortopedista”, numa referência à especialidade médica do governador.
Apesar da provocação, avaliou que será difícil para o goiano romper o domínio de Jair Bolsonaro sobre a direita. “Mesmo preso, talvez até mais forte preso, Bolsonaro ainda é o único nome que unifica o campo conservador.”
No fim, sobrou também para Lula, a quem apoia. O ex-ministro sugeriu que o presidente adote um projeto concreto na educação básica como vitrine de campanha. Uma cobrança que soa como rara franqueza num cenário em que as alianças já parecem decididas, mas ainda carecem de conteúdo para além dos palanques.
Domingos Ketelbey
É repórter, colunista e apresentador. Conecta os bastidores do poder, cultura e cotidiano na cobertura jornalística
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