Bebê abandonado em UTI do Hugol troca o dia pela noite e não tem contato com mundo exterior
Profissionais relatam que, sem luz natural e estímulos externos, menino de 1 ano e 6 meses cresce em rotina artificial dentro do hospital
4 de setembro de 2025 às 11:32
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Especial
O bebê de 1 ano e 6 meses que vive há mais de um ano na UTI de cardiopediatria do Hospital Estadual de Urgências Governador Otávio Lage de Siqueira (Hugol), em Goiânia, enfrenta também as consequências de uma rotina hospitalar sem contato com o mundo externo. O blog mostrou com exclusividade sua história em matéria publicada nesta quinta-feira (4).
Clinicamente estável e sem necessidade de terapia intensiva, o menino, permanece em um cercadinho dentro da unidade porque foi abandonado pela família e ainda aguarda decisão da Justiça sobre seu destino.
De acordo com relatos de profissionais do hospital, o ambiente fechado da UTI afeta o desenvolvimento do bebê. Sem acesso à luz natural e exposto ao barulho constante de máquinas e movimentação de plantões, ele apresenta alterações no sono.
“Às vezes ele troca a noite pelo dia, fica acordado durante a madrugada e agora de manhãzinha geralmente é o tempo que ele tá dormindo. Ou seja, mais uma coisa que prejudica ele, né? Mas enfim, UTI é super complicado”, disse uma pessoa ligada ao caso, sob anonimato.
Médicos e enfermeiros relatam ainda que o menino nunca teve contato direto com o mundo exterior desde que passou a viver no hospital. Sua rotina se resume ao espaço limitado da cardiopediatria, sem estímulos naturais essenciais para o desenvolvimento de uma criança. Na prática a UTI do Hospital tornou-se sua moradia e os profissionais que ali estão presentes, seus familiares.
De acordo com funcionários, o menino poderia estar em outro ambiente, fora da terapia intensiva, mas permanece confinado por falta de definição judicial. “Como já está maiorzinho, tiraram ele da cama e o colocaram em um cercadinho, mas ainda dentro da UTI. Esse leito poderia estar sendo usado por outro paciente em estado grave, já que a unidade está constantemente lotada”, afirmou outro profissional.
Além da morosidade da Justiça, abandono familiar
Pedro foi internado ainda recém-nascido. Desde cedo, os registros apontavam dificuldades sociais e familiares. Com o tempo, os vínculos com os pais se fragilizaram até que as visitas cessaram por completo.
De acordo com relatos dos médicos, o Conselho Tutelar e a Justiça passaram a acompanhar o caso, mas sem avanços práticos.
Há mais de um ano, tramita um processo em segredo de justiça, que deveria definir se ele seria encaminhado para adoção ou para um abrigo. A lentidão do Judiciário, porém, mantém o impasse. Recentemente, os autos foram remetidos ao Ministério Público de Trindade, cidade onde a família supostamente reside.
O blog entrou em contato com o Ministério Público do Estado de Goiás (MPGO), que informou que os autos extrajudiciais foram remetidos à 3ª Promotoria de Justiça de Trindade em 26/08/2025. Segundo o órgão, já foi expedido ofício ao Hugol e aguarda-se resposta do hospital para definir as próximas providências.
Domingos Ketelbey
É repórter, colunista e apresentador. Conecta os bastidores do poder, cultura e cotidiano na cobertura jornalística

Ana Paula Belini
É repórter com vasta experiência em cobertura políticas, documentários e no jornalismo audiovisual.
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