Presidente do Cremego sobe o tom contra corte nos plantões em Goiânia
Às vésperas da reunião decisiva, entidade médica acusa Prefeitura de desrespeitar o SUS e alerta para risco de evasão de profissionais
23 de setembro de 2025 às 18:25
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Política
Às vésperas da reunião que pode mudar o bolso e a rotina de centenas de médicos em Goiânia, o presidente do Cremego, Rafael Martinez, resolveu subir o tom. Em nota divulgada nesta terça-feira (23), ele acusou a Prefeitura de tentar impor uma redução salarial travestida de tabela de valores.
O alvo é a proposta que será analisada pelo Conselho Municipal de Saúde nesta quarta-feira (24), prevendo corte de até 22,6% nos plantões pagos a generalistas da rede de urgência.
“Não aceitamos nenhum tipo de redução salarial. Isso beira ao absurdo. É um desrespeito à medicina, ao SUS e a todos os profissionais. Quem perde com isso é a população”, disse Martinez. O recado foi direto: a entidade não engolirá a justificativa de que a medida é apenas ajuste orçamentário. Para os médicos, trata-se de um ataque à dignidade da profissão e ao mínimo de condições de trabalho em um sistema já sobrecarregado.
O movimento do Cremego não é isolado. Desde que a Prefeitura divulgou a intenção de cortar valores, as críticas se multiplicam. O Sindicato dos Médicos já havia alertado para o risco de debandada caso a tabela fosse aprovada. Agora, o conselho profissional soma sua voz para pressionar os conselheiros que terão direito a voto. “Não aceitem redução salarial de médico ou de nenhum profissional”, insistiu Martinez, em um apelo público.
O discurso reflete um impasse que se arrasta há meses. De um lado, a Secretaria de Saúde tenta argumentar que os novos valores estão ajustados à realidade financeira e permitiriam ampliar o número de credenciados. De outro, médicos veem na proposta um retrocesso capaz de agravar a falta de profissionais nas escalas.
Na prática, a reunião do Conselho se transforma em palco de uma disputa política: o governo municipal querendo mostrar austeridade e eficiência, e as entidades médicas denunciando precarização. Se a proposta passar, o impacto vai além das planilhas, avaliam médicos. O risco é abrir caminho para mais vazios nas escalas e para o enfraquecimento de um sistema que já opera no limite.

Domingos Ketelbey
É repórter, colunista e apresentador. Conecta os bastidores do poder, cultura e cotidiano na cobertura jornalística
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