Otoni de Paula afirma que gritou “mito” no altar, pregou “Cristo de direita” e hoje se envergonha: “Transformei Jesus em cabo eleitoral”
1 de dezembro de 2025 às 15:40
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Política
O deputado federal Otoni de Paula (MDB-RJ), que em abril foi a Salvador, declarar apoio ao projeto nacional do governador Ronaldo Caiado (União Brasil) no evento que lançou a pré-candidatura caiadista ao Palácio do Planalto, usou o plenário da Câmara para fazer um desabafo público sobre os anos em que esteve alinhado ao bolsonarismo. De acordo com ele, esse período foi marcado por radicalismos e posturas incompatíveis com sua trajetória religiosa e política.
"Eu decidi andar sozinho que mal acompanhado. Eu não quero andar mais com os extremos. E não quero mais ser visto como um extremista", afirmou. Otoni, que é pastor evangélico, já foi um dos principais entusiastas do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), mas agora afirma se envergonhar da postura que adotou ao longo dos últimos anos. Ele foi, inclusive, líder da bancada evangélica enquanto o capitão esteve à frente do Palácio do Planalto.
"Eu não estava parecendo um pastor. Eu estava parecendo um louco. Um louco que acha que tudo se resolve na bala e no tiro", disse. "Ao invés de ficar ao lado da justiça, eu preguei que bandido tem que morrer mesmo. Ao invés de denunciar o pecado do racismo, eu preferi dizer que racismo não existe na minha nação."
O arrependimento foi além da retórica política. “Me arrependo de ter dito que o meu Cristo era de direita. Me arrependo de ter colocado o meu Cristo dentro de uma caixinha ideológica”, declarou, em tom de autocrítica. “Me arrependo quando gritei ‘mito’ no lugar aonde só deveria cultuar ao Senhor.”
O posicionamento do deputado vem quase um mês após ele ser o único nome da base conservadora a criticar abertamente a Operação Contenção, que deixou mais de 120 mortos nos Complexos da Penha e do Alemão.
Na tribuna da Câmara, um dia após a operação, Otoni disse que quatro jovens de sua igreja foram mortos e denunciou a criminalização da pobreza. “Meninos que nunca portaram fuzis estão sendo contados no pacote como se fossem bandidos. E sabe quem vai saber se são bandidos ou não? Ninguém. Porque preto correndo em dia de operação na favela é bandido.”

Domingos Ketelbey
É repórter, colunista e apresentador. Conecta os bastidores do poder, cultura e cotidiano na cobertura jornalística
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