Willian Bonner, apresentador do Jornal Nacional

Willian Bonner vai deixar o Jornal Nacional em novembro (Foto: Divulgação/ Rede Globo)

Willian Bonner, apresentador do Jornal Nacional

Willian Bonner vai deixar o Jornal Nacional em novembro (Foto: Divulgação/ Rede Globo)

Willian Bonner, apresentador do Jornal Nacional

Willian Bonner vai deixar o Jornal Nacional em novembro (Foto: Divulgação/ Rede Globo)

Willian Bonner, apresentador do Jornal Nacional

Willian Bonner vai deixar o Jornal Nacional em novembro (Foto: Divulgação/ Rede Globo)

Boa noite

Despedida de William Bonner do Jornal Nacional marca o fim de uma era em que o “boa noite” do telejornal era também o boa noite do Brasil

2 de setembro de 2025 às 00:49

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Mídia

Durante três décadas, o Brasil se acostumou a dormir após ser embalado por um cumprimento. O  “Boa noite” dito pelo âncora do Jornal Nacional William Bonner, atravessava salas, cozinhas e quartos. Não era apenas uma saudação: era a pontuação final de um país. Vi no Jornal Opção um artigo do professor Carlos César Higa em que dizia que seu pai acertava o horário do relógio de acordo com o semanário. Claro, os tempos eram outros e o JN era apresentado por Cid Moreira e Sérgio Chapelin. No entanto, dá a dimensão de como o programa impactou na vida dos brasileiros.

Havia quem gostasse e quem não suportasse o Jornal Nacional. Mas até os que mudavam de canal sabiam que o dia estava acabando quando Bonner fechava a edição. Ele foi, de certa forma, um cronômetro humano. Entre a novela das sete e a novela das nove, entre a janta e o sofá, entre a lição de casa e o pijama, estava sempre lá: camisa, gravata, olhar direto na câmera.

O “boa noite” de Bonner atravessou governos, planos econômicos, tragédias e celebrações. Em sua cadência cabiam Dilma e Lula, Real, mensalão e petrolão, o apagão do FHC e a pandemia do Bolsonaro. O brasileiro podia discordar da pauta, contestar a edição, mas não conseguia escapar da sensação de que aquele homem de fala pausada era o fio de continuidade de uma época.

Agora, quando anuncia que deixará a bancada, a notícia não mexe apenas com a Globo ou com o jornalismo: mexe com a memória coletiva. É como se o país perdesse o locutor oficial das rotinas diárias. 

Vão entrar novos rostos, novas vozes, novas maneiras de dar a notícia. É Cesar Tralli quem terá a responsa de saudar os brasileiros a partir de novembro. Mas o “boa noite” de William Bonner ficará registrado como se fosse parte da identidade nacional, uma marca sonora que nos ensinou a fechar o dia. 

E talvez, quando ele disser isso pela última vez no Jornal Nacional, cada espectador sinta que não se trata apenas de uma troca de programa. É também o fim de uma era em que a televisão ainda nos reunia diante de um mesmo relógio invisível. Bonner seguirá nas telas, agora no Globo Repórter, ao lado de Sandra Annenberg, mas a memória de sua despedida diária será sempre um capítulo à parte.

Boa noite.

Domingos Ketelbey

É repórter, colunista e apresentador. Conecta os bastidores do poder, cultura e cotidiano na cobertura jornalística

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