Ministro do Turismo decide deixar governo Lula após pressão do União Brasil
Pressionado pela sigla, ministro anuncia que entregará a carta de demissão após viagem de Lula aos EUA
20 de setembro de 2025 às 08:02
·
Política
Ministro do Turismo se despede do Governo após pressão do União Brasil
A novela da presença do União Brasil no governo Lula ganhou um novo capítulo nesta sexta-feira (19). O ministro do Turismo, Celso Sabino, comunicou pessoalmente ao presidente, no Palácio da Alvorada, que vai deixar o cargo. Foi uma conversa de mais de uma hora, na qual Sabino explicou que não resistiria à ordem de seu partido. As informações são do Estadão.
A sigla deu um ultimato aos filiados: ou pediam exoneração em até 24 horas ou enfrentariam sanções. A determinação saiu na quinta-feira, em meio ao acirramento das tensões entre o União Brasil e o Planalto. Sabino, deputado pelo Pará e no comando da pasta desde julho de 2023, tentou negociar uma saída honrosa, mas acabou cedendo. Pediu apenas alguns dias para cumprir agendas e entregar a carta de demissão após a volta de Lula de Nova York, na próxima semana.
A pressão do partido
O gesto de Antonio Rueda, presidente da sigla, não se limitou ao rompimento. A direção nacional passou a insinuar que o governo estaria por trás das reportagens que ligaram seu nome ao Primeiro Comando da Capital. Rueda nega qualquer envolvimento com a facção, mas a crise interna empurrou o União Brasil para longe do Planalto.
O ataque foi rebatido pela ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, que repudiou o tom da nota do partido. Para ela, não há cabimento em culpar o governo pelas investigações conduzidas pela Polícia Federal. A PF, lembrou a ministra, tem independência funcional e não atua sob ordem de políticos.
Perdas estratégicas
A saída de Sabino fragiliza Lula em um ponto sensível: a organização da COP30, que será realizada em Belém em 2025. O ministro era peça-chave na articulação logística e política da conferência. Sua ausência abre uma lacuna que o governo precisará preencher em tempo recorde.
O episódio expõe mais uma fissura na já complicada relação de Lula com partidos do centrão. O União Brasil, que chegou a controlar três ministérios, agora empurra seus quadros para fora da Esplanada. O movimento agrava a instabilidade da base aliada, a poucos meses de votações cruciais no Congresso.
No balanço desta semana, o governo perdeu um aliado estratégico na Amazônia e ganhou mais uma frente de atrito em Brasília. Lula voltará dos Estados Unidos com a missão de reorganizar não apenas a política externa, mas também o tabuleiro doméstico, que a cada dia se mostra mais instável.
Domingos Ketelbey
É repórter, colunista e apresentador. Conecta os bastidores do poder, cultura e cotidiano na cobertura jornalística
Continue a leitura
