Médicos veem ameaça à qualidade do atendimento com corte nos plantões proposto pela Prefeitura de Goiânia
Proposta será analisada pelo Conselho Municipal de Saúde e prevê corte de até 22% nos pagamentos a generalistas da urgência
19 de setembro de 2025 às 17:11
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Cidades
Em meio à dificuldade crônica de manter médicos nas escalas, a Prefeitura de Goiânia quer reduzir o valor pago aos plantões da rede de urgência e emergência. A proposta, cujo blog teve acesso, será apresentada ao Conselho Municipal de Saúde de Goiânia no próximo dia 24 e prevê um corte de até 22,6% no valor recebido pelos generalistas, hoje fixado em R$ 1.680 por 12 horas, com acréscimo nos fins de semana. Se a mudança for aprovada, os plantões cairão para R$ 1.440 nos dias úteis e R$ 1.560 nos sábados e domingos.
A Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia afirma que a nova tabela ajusta os valores à realidade orçamentária e permitiria ampliar o número de profissionais. Na prática, a prefeitura quer pagar menos para contratar mais, sob justificativa de maior eficiência. Uma conta que parece boa apenas no papel para a Prefeitura. Profissionais consultados pelo blog avaliam que, em um cenário de escassez de médicos dispostos a encarar o caos de algumas unidades, reduzir o valor da hora pode ser o empurrão que faltava para acelerar a evasão, além do risco à qualidade do atendimento.
A proposta também cria faixas específicas para especialidades como pediatria, psiquiatria e ortopedia, que passariam a receber R$ 180 por hora em dias úteis e R$ 190 aos fins de semana. Já na atenção primária, os generalistas receberiam R$ 100 por hora, valor inferior ao pago hoje na urgência. A medida atinge o coração da rede, justamente os profissionais que seguram as pontas nas portas de entrada do sistema e que, por anos, garantiram o mínimo de atendimento mesmo sem estrutura.
A reação da categoria foi imediata. “Toda forma de redução impacta no interesse dos colegas em permanecer no serviço. Atuamos, como sempre, evitando qualquer prejuízo contra os médicos”, disse Francine Leão, presidente do Sindicato dos Médicos de Goiás, disse em uma entrevista concedida a mim em uma matéria que publiquei no portal Mais Goiás.
“Já estão atuando em total falta de condições de atendimento à população goianiense. Tendo esse prejuízo, não sei se permanecerão no serviço.”
A proposta será levada à votação no Conselho em meio a uma pauta carregada de temas sensíveis, como o relatório de gestão, a análise de contas e até a produtividade dos próprios médicos. Se passar, a mudança pode representar o início de uma nova fase na saúde municipal, mas com o risco real de deixar as escalas ainda mais vazias do que já estão. Há quem diga que diante da alta demanda, a Prefeitura até conseguirá profissionais emergentes para suprir o trabalho. Com custo e risco de atendimento à população.
Domingos Ketelbey
É repórter, colunista e apresentador. Conecta os bastidores do poder, cultura e cotidiano na cobertura jornalística
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