“Só concurso não resolve”, alerta presidente do Sinpol-GO
Entrada de quase mil novos servidores não foi suficiente para conter o esvaziamento da corporação, explica Renato Rick
20 de setembro de 2025 às 19:56
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Entrevista
A Polícia Civil do Estado de Goiás vive um paradoxo. Mesmo após receber quase mil novos servidores nos últimos anos, a instituição segue enfrentando uma crise silenciosa: a evasão precoce de seus quadros. De acordo com lideranças de movimentos sindicais que representam a corporação, o fenômeno expõe uma ferida antiga e ainda não cicatrizada: a desvalorização histórica da carreira policial civil.
Enquanto o governo comemora o ingresso de novos agentes, escrivães e papiloscopistas, os bastidores revelam um movimento inverso. Muitos desses profissionais, aprovados em um processo seletivo rigoroso e submetidos a meses de formação, já estão deixando a instituição para assumir cargos mais atrativos em outras áreas da Segurança Pública ou em outros estados, explica o presidente do Sindicato dos Policiais Civis do Estado de Goiás (Sinpol-GO), Renato Rick em entrevista exclusiva ao blog Domingos Ketelbey.
A situação preocupa a entidade não apenas pelas baixas numéricas, mas pelo desperdício de capital humano. Cada novo servidor representa um investimento pesado do Estado, que envolve seleção, formação e estruturação, mas não garante condições mínimas para sua permanência. O resultado é um ciclo vicioso: concursos, renovações parciais e novas perdas.
Nesta entrevista, Renato Rick explica por que só realizar concursos não basta e defende a necessidade urgente de uma política de valorização capaz de frear a sangria de talentos e resgatar a autoestima da categoria.
Abaixo, a entrevista na íntegra com o presidente do Sindicato dos Policiais Civis de Goiás (Sinpol), Renato Rick:
Blog Domingos Ketelbey: Por que o senhor afirma que apenas realizar concursos não resolve o problema da Polícia Civil?
Renato Rick: Porque o concurso é só a porta de entrada. O Estado exige dos candidatos um nível altíssimo de preparo físico, técnico e moral, mas não oferece condições para que eles queiram permanecer. Sem valorização, esse esforço inicial se perde, e o ciclo de evasão continua.
A Polícia Civil de Goiás ganhou quase mil novos policiais civis recentemente. Esse reforço não foi suficiente para mudar o cenário da instituição?
Renato Rick: Foi um avanço importante, mas está longe de resolver o problema. Repito: o ingresso exige dos candidatos um nível altíssimo de preparo físico, técnico e moral. O esperado seria que esses profissionais construíssem uma carreira sólida, mas a realidade é outra: a Polícia Civil goiana segue sendo a pior carreira da Segurança Pública no Estado.
Como está hoje a carreira da Polícia Civil em comparação com outras forças da Segurança Pública?
Renato Rick: Infelizmente, a Polícia Civil do Estado de Goiás ocupa a última posição no Estado em termos de remuneração. Ganhamos menos que policiais militares, penais, bombeiros e até servidores da Polícia Científica. No cenário nacional, já fomos a segunda polícia civil mais valorizada do país. Hoje caímos para a 15ª posição.
Qual o impacto dessa desvalorização para a instituição e para a sociedade?
Renato Rick: O impacto é direto: a evasão. Só no concurso finalizado em 2024, cerca de 40% dos novos policiais já deixaram ou se preparam para deixar a instituição. O Estado investe pesado na formação de profissionais altamente qualificados, mas perde esse capital humano em pouquíssimo tempo, o que enfraquece a instituição e prejudica o serviço à população.
O que seria necessário para reverter esse quadro?
Renato Rick: É preciso uma política séria de valorização da carreira. Isso passa por corrigir as distorções salariais e criar perspectivas reais de ascensão profissional. Valorizar a carreira é investir na continuidade, na experiência e na qualidade do serviço prestado à sociedade. Sem isso, seguiremos abrindo concursos que apenas alimentam a rotatividade.

Domingos Ketelbey
É repórter, colunista e apresentador. Conecta os bastidores do poder, cultura e cotidiano na cobertura jornalística
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