Quem tem medo da CEI da LimpaGyn?
Prefeito diz não temer investigação, mas exonerações mostram o contrário
26 de agosto de 2025 às 19:55
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Política
A CEI da LimpaGyn ainda nem começou, mas já provoca calafrios no Paço Municipal e divide a Câmara de Goiânia. O prefeito Sandro Mabel (UB) repete que não teme a investigação, mas as reações de sua base e as exonerações no secretariado mostram o contrário: Diogo Franco, o irmão de seu líder na Câmara, Igor Franco, por exemplo, já não está mais à frente da Secretaria de Desenvolvimento, Indústria, Comércio, Agricultura e Serviços.
Na manhã desta terça-feira (26), a comissão continuou dando o tom principal ao debate. O vereador Coronel Urzêda (PL) resumiu o sentimento de boa parte da plateia: “Por que tanta preocupação com essa CEI? Tanto de um lado como de outro. Eu não tô nem aí. Não devo nada, não assinei contrato, eu nem sei onde fica a LimpaGyn. Alguém deve? Se dever, paga. Simples.”
Do outro lado do espectro político, a tucana Aava Santiago (PSDB) fez um dos discursos mais duros da manhã. Sem ter assinado o requerimento, agora promete se jogar de cabeça nos trabalhos. E mandou recado direto ao prefeito. “O que vi até agora não foi um prefeito chantageado, mas um prefeito chantagista. Se o vereador não retira assinatura, exonera o secretário que o irmão indicou. Quem tá chantageando?”
Já Fabrício Rosa (PT), confirmado como membro do colegiado, disse que não fará parte do silêncio ou da barganha. “Deste vereador, não esperem maracutaia. O que haverá é investigação. Essa CEI surge num contexto em que o prefeito perde força e a base está completamente rachada.”
O próprio prefeito já reconhece que a rachadura está escancarada ao dizer a cada vereador que está reformulando sua base. Se antes contava com quase 30 parlamentares, agora esse número deve cair para 23, talvez 24. O próprio líder, caso seja destituído, pode adotar postura de maior independência, ou até migrar de vez para a oposição. São cenas dos próximos capítulos. Resta saber apenas quando isso acontecerá.
O pano de fundo é o mesmo: se a CEI não assusta, como repete Mabel, por que tantos telefonemas, reuniões, exonerações e discursos inflamados? O consórcio de limpeza é apenas o objeto formal da comissão. Na prática, o que está em jogo é a relação de forças entre Executivo e Legislativo e, sobretudo, a sobrevivência política do prefeito em uma base que já não fala a mesma língua. Se a CEI vai terminar em pizza, e o histórico mostra que isso não é difícil, já é outra história.
Domingos Ketelbey
É repórter, colunista e apresentador. Conecta os bastidores do poder, cultura e cotidiano na cobertura jornalística
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