O Hugol tornou-se o lar do pequeno Pedrinho* (Foto: Reprodução)

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O Hugol tornou-se o lar do pequeno Pedrinho* (Foto: Reprodução)

EXCLUSIVO

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Criança mora há mais de um ano na UTI do Hugol após ser abandonada

Menino de 1 ano e 6 meses está clinicamente estável, mas vive em um “cercadinho” da cardiopediatria à espera de decisão da Justiça

4 de setembro de 2025 às 00:20

·

Especial

Última atualização às 15h51

Um bebê de apenas 1 ano e 6 meses vive há mais de um ano internado na UTI de cardiopediatria do Hospital Estadual de Urgências Governador Otávio Lage de Siqueira (Hugol), em Goiânia. Ele não precisa mais de cuidados intensivos, mas segue ocupando um dos dez leitos da unidade porque foi abandonado pela família e ainda não há decisão judicial sobre seu destino. Em outras palavras, o Hugol tornou-se seu lar e os médicos e enfermeiros, seus familiares e ‘tutores’.

Enquanto o processo se arrasta, a infância do menino se perde dentro de um “cercadinho” instalado na ala hospitalar. Profissionais do hospital relatam que a criança é bem cuidada e querido por todos, mas cresce sem estímulos básicos para o desenvolvimento. “Ele vive basicamente em cárcere dentro da UTI, sem contato com o mundo externo, sem brincar, sem correr, sem se desenvolver como deveria”, disse, sob anonimato, uma das pessoas ligadas ao caso.

Clinicamente estável, Pedro*, como é chamado nos processos, toma apenas dois medicamentos por dia e não tem mais acessos venosos. Nos corredores, os colaboradores do hospital o chamam apenas de Pedrinho, tamanho é o cuidado e carinho que há entre o núcleo profissional e a criança. O blog Domingos Ketelbey teve acesso a videos e imagens do menino.

De acordo com funcionários, poderia estar em outro ambiente, fora da terapia intensiva, mas permanece confinado por falta de definição judicial. “Como já está maiorzinho, tiraram ele da cama e o colocaram em um cercadinho, mas ainda dentro da UTI. Esse leito poderia estar sendo usado por outro paciente em estado grave, já que a unidade está constantemente lotada”, afirmou outro profissional.

Além do abandono familiar, uma justiça lenta

Pedro foi internado ainda recém-nascido. Desde cedo, os registros apontavam dificuldades sociais e familiares. Com o tempo, os vínculos com os pais se fragilizaram até que as visitas cessaram por completo. Desde abril deste ano, os genitores, nem qualquer outro familiar do garoto não apareceram mais para qualquer tipo de visita. 

O Conselho Tutelar e a Justiça passaram a acompanhar o caso, mas sem avanços práticos. Há mais de um ano, tramita um processo que deveria definir se ele seria encaminhado para adoção ou para um abrigo. A lentidão do Judiciário, porém, mantém o impasse. Recentemente, os autos foram remetidos ao Ministério Público de Trindade, cidade onde a família supostamente reside.

A expectativa dos profissionais é que haja posicionamento pela destituição do poder familiar e encaminhamento do menino a uma instituição de acolhimento ou família substituta. Enquanto a decisão não sai, Pedrinho cresce atrás dentro de um cercadinho, privado do direito mais básico de qualquer criança: o de viver a infância.

[Atualizado04/09/2025 às 15h51] O blog entrou em contato com o Ministério Público do Estado de Goiás (MPGO), que informou que os autos extrajudiciais foram remetidos à 3ª Promotoria de Justiça de Trindade em 26/08/2025. Segundo o órgão, já foi expedido ofício ao Hugol e aguarda-se resposta do hospital para definir as próximas providências.

*Os nomes foram alterados para preservar a identidade da criança.

Domingos Ketelbey

É repórter, colunista e apresentador. Conecta os bastidores do poder, cultura e cotidiano na cobertura jornalística

Ana Paula Belini

É repórter com vasta experiência em cobertura políticas, documentários e no jornalismo audiovisual.

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