Bandeira branca, amor…
Se a bandeira branca é gesto sincero ou apenas ensaio de sobrevivência, as próximas votações vão dizer
8 de setembro de 2025 às 20:54
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Política
Escrevi neste blog que a sexta-feira, 29 de agosto, foi um dia que não terminou para o prefeito Sandro Mabel (UB): em questão de horas, o chefe do executivo goianiense destituiu Igor Franco (MDB) da liderança do governo e oficializou um embate virulento contra o até então aliado. Sobrou até para outros vereadores ao ameaçar judicializar a revogação da taxa do lixo, caso a matéria fosse derrubada no plenário. Duas semanas depois, nesta segunda-feira (8), a relação entre Paço e Câmara parece começar a retomar a um eixo minimamente civilizatório.
“Bandeira branca, amor, não posso mais”, foi um verso imortalizado por Dalva de Oliveira e serve como vaivém dessa trilha sonora da relação do prefeito e de seu ex-líder. Igor Franco é um reflexo da fragilidade da relação do Paço com o restante dos parlamentares. Ao longo das últimas semanas, o que se viu foram ataques, exonerações e recuos em demissões que escalaram à crise entre a administração e o legislativo, que lembraram de certa forma, os anos em que Rogério Cruz ocupou a cadeira do Paço Municipal.
O recuo na virulência da relação começou a ser vista no último sábado (6), Mabel quando usou a celebração dos três anos do projeto Passaporte para Vitória, de autoria de Igor Franco, para acenar ao aliado rebelde. Diante de crianças uniformizadas, fez questão de ressaltar que a iniciativa só se mantém em Goiânia graças às emendas do emedebista. Foi o primeiro gesto público de trégua desde o rompimento.
Nesta segunda-feira (8), em entrevista à minha coluna no portal Mais Goiás, Igor baixou o tom. Disse não ter “estresse” com o prefeito, embora mantenha críticas duras à LimpaGyn. “Desejo sucesso à gestão do Sandro, que é o melhor para minha cidade”, afirmou. Mas completou: “Fiz críticas mesmo à limpeza de Goiânia. Na minha visão, está ruim e a LimpaGyn não faz um serviço bem feito”.
Ainda nesta segunda-feira (8), ao oficializar Wellington Bessa como novo líder do governo, Mabel buscou reforçar a imagem de pacificação. Disse que a escolha teve respaldo de “situação e oposição” e agradeceu a atuação de Igor enquanto esteve na função. “Ele atuou bem, ajudou a passar diversos projetos na Câmara. Espero que continue nos ajudando”, afirmou o prefeito.
Claro, algumas questões fazem que o dia 29 de agosto ainda não tenha terminado. Bessa, novo líder de Mabel, passou praticamente todos os quatro anos da gestão Rogério Cruz, no Paço Municipal, sendo a maior parte do tempo como Secretário de Educação e depois em um curto período à frente da Administração. Saiu em julho de 2023 diante dos inúmeros desgastes acumulados. Ainda há lacunas que Mabel deverá responder ao longo das próximas semanas.
Na prática, a “bandeira branca” acenada nos últimos dias revela mais pragmatismo que afeto. Mabel sabe que não pode abrir mão de vereadores com trânsito na Câmara, enquanto Igor demonstra que não pretende romper de vez, mas tampouco se dobrar. O gesto é menos sobre reconciliação e mais sobre sobrevivência política. Se a trégua vai durar, ninguém sabe. Mas como na música de Dalva, há momentos em que até os generais cansam da guerra. “Pela saudade que me invade, eu peço a paz”.
Domingos Ketelbey
É repórter, colunista e apresentador. Conecta os bastidores do poder, cultura e cotidiano na cobertura jornalística
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